12ª Casa

Começando pela 12ª Casa, o crescimento assegurou que nos distinguíssemos da ilimitada e universal matriz de vida da qual primeiro emergimos. No entanto, como vimos na 11ª Casa, a distinção entre nós mesmos e os outros é desafiada pelo entendimento de que cada passo de um sistema é ligado e inter relacionado com as outras partes. Tanto místicos quanto cientistas nos dizem que, afinal, não somos tão diferentes. Quem somos é influenciado pelos outros e os outros são influenciados pelo que somos. Nossas mentes estão ligadas e são diretamente afetadas umas pelas outras. A noção de que existimos como entidades isoladas está rapidamente perdendo espaço para um sentido mais amplo e coletivo do self. Na 12ª Casa, o duplo processo da dissolução do ego individual e a fusão com algo maior que é o self, é sentido e vivenciado, não via mente ou intelecto, como na 11ª Casa, mas com o nosso coração e a nossa alma. Como diz Chistopher Fry: "O coração humano pode ter a amplitude de Deus."

O poeta Walter de la Mare escreveu que "nossos sonhos são contos, narrados num paraíso nublado". Em nível mais profundo, a 12ª Casa, naturalmente associada com Água, Peixes e o planeta Netuno, representa a pressa de dissolução que existe em cada um de nós, uma ansiedade para voltar às águas indiferenciadas do útero materno, para o estado original de unidade. Freud, Jung, Piaget, Klein e um grande número de outros psicólogos modernos estão de acordo em afirmar que a primeira estrutura de consciência da criança é pré pessoa/objeto, ignorando limites, espaço e tempo. Lembranças precoces ferem mais profundamente em nível muito profundo. Todo indivíduo intui que sua natureza mais profunda é ilimitada, infinita e eterna. A redescoberta dessa totalidade é a nossa maior necessidade e nosso maior desejo. De uma perspectiva psicológica reducionista, o desejo de religação com o original sentido de totalidade perdido pode ser entendido como uma regressão para o estado anterior ao nascimento, mas em termos espirituais esta mesma ansiedade se transforma num desejo místico de união com nossa fonte e numa experiência direta de fazer parte de algo maior do que nós mesmos. Este é um tipo de saudade divina.

De certo modo a proposta de um retorno a este estado encantador e cheio de paz, soa como uma glória. E ainda, algo mais dentro de nós, o desejo do ego de se preservar e o medo de sua própria morte concorre para esse sentimento. O ego batalhou muito para ganhar uma fatia de vida para si mesmo. Por que deveria ele renunciar a isso? No símbolo de Peixes, o signo associado com a 12ª Casa, dois Peixes nadam em direções opostas. Os seres humanos se defrontam com um dilema fundamental com dois impulsos contrastantes. Todos querem perder seu sentido de isolamento e transcender sua separação individual, e ainda assim ficam aterrorizados com a desintegração e temem a perda do self separado. Essa dupla ligação existencial - querer a totalidade, temendo e resistindo a ela - este é o maior compromisso da 12ª Casa.

Por ser tão assustadora a dissolução da identidade do ego, as pessoas procuram gratificações substitutivas numa tentativa de satisfazer a ansiedade de autotranscendência. Uma das estratégias para a religação com a unidade é através do sexo e do amor: "Se eu sou amado, possuído ou faço parte de algo, consigo ir além do meu isolamento." Outra maneira para ganhar novamente o sentido perdido de onipotência e onipresença é através do domínio do poder e do prestígio. Se posso estender meu território de influência sobre muitas coisas, o resto da vida está ligado a mim. O mergulho em álcool ou em drogas é outra maneira de quebrar barreiras. Tentativas de suicídio e várias outras formas de comportamento autodestrutivo ocultam muitas vezes o desejo de retornar a um estado de bem-aventurança de ser não-diferenciado. Outros procuram a transcendência mais diretamente através da meditação, da prece e da devoção a Deus. A 12ª Casa pode fazer aparecer qualquer uma destas saídas.

No entanto, é provável que a 12ª Casa desestruture, engolfe, absorva ou infle a identidade individual. Esquecer o paradigma do "eu aqui dentro" versus o "você lá fora" significa que os limites entre nós e os outros se mesclaram. Por esta razão, uma forte ênfase nesta casa pode indicar pessoas que tenham grande dificuldade em formar claramente identidades definidas. Elas são influenciadas por qualquer coisa que esteja por perto ou seja lá com quem for que entrem em contato. Outras distorcem dramaticamente suas identidades pessoais fora de proporção. Antes de sacrificar o ego a ligar-se a algo caro e divino, a pessoa pode tentar embeber o ego com tais qualidades. Em vez de procurar se religar com Deus, a pessoa tenta bancar Deus - uma forma de arrogância relativa ao que Abraham Maslow chamou de "grande desvio superior".

Junto com esta confusão da 12ª Casa sobre quem somos, muitas vezes vem uma total falta de direcionamento de vida. Em algum nível pode haver a sensação de que uma vez que tudo é mesmo igual, qual é a diferença? Tão logo distingue-se uma clara identidade ou uma estrutura é imposta à vida, algo acontece que puxa o tapete debaixo dos pés e a nebulosidade reina suprema novamente. Assim que o indivíduo pensa que capturou algo em que pendurar o sentido do Eu este algo escorrega ou desaparece. A capacidade de manter as coisas unidas ou facilitar seus próprios fins pessoais é de algum modo servil a um poder de dissolução muito maior sobre o qual há muito pouco controle.

O obscurecimento de limites entre o self e os outros pode criar confusão a respeito de onde nós começamos e de onde terminam os outros, mas ao mesmo tempo confere um maior grau de simpatia e compaixão por aqueles com quem compartilhamos a Terra. Assim oprimidas pelo sofrimento ao seu redor, algumas pessoas com uma 12ª Casa forte vão procurar quaisquer meios de escape ou afastamento do mundo como um todo. Outras que sentem a dor "lá de fora" como sua própria, vão naturalmente trabalhar de modo a amenizar esta dor. Em vários graus, a 12ª Casa descreve o auxiliar, o "ordenador", o libertador, o mártir ou salvador, que "toma sobre si" as necessidades e as causas de outrem.

O significado original da palavra sacrifício é "tornar sagrado". Algo que foi tornado sagrado ao ser oferecido aos deuses ou a forças superiores. Passando através de todos os graus de significado da 12ª Casa está a suposição de que o indivíduo é redimido através do auto-sacrifício, através do oferecimento do self a algo maior. Isto é verdadeiro na medida em que temos, de alguma maneira, que deixar um sentido de self autônomo e separado para entrar no abraço maior do todo. Enquanto o sacrifício e o sofrimento muitas vezes servem para aliviar o ego e dar vazão a uma maior simpatia e conhecimento espiritual, o valor da dor e a natureza do sacrifício são muito facilmente distorcidos em "Eu tenho de sofrer para encontrar a Deus" ou "Tudo o que possa se constituir numa satisfação pessoal deve ser abandonado". No entanto, talvez não sejam as coisas em si que devam ser sacrificadas mas, mais precisamente, o nosso vínculo com elas. No momento em que derivamos nossa identidade ou realização de tais coisas como relacionamentos, propriedades, ideologias ou sistemas de crença, perdemos o contato com a nossa natureza mais profunda e básica com a nossa natureza ilimitada.

Algumas pessoas podem até tentar alcançar ou realizar seus sonhos e desejos da 11ª Casa apenas para descobrir, na 12ª, que ainda se sentem enganadas por não terem a felicidade completa. Aquilo que pensavam que lhes daria a maior satisfação já não é suficiente, ou então mostrou não ser tudo. Os romanos tinham um ditado: Quod hoc ad aeternitatem? (que significa: O que é isso comparado com a eternidade?). Do mesmo modo, a 12ª Casa nos lembra constantemente que todas as alegrias desejam ser infinitas.

A 12ª Casa (junto com as outras casas de Água, a 4ª e a 8ª) tradicionalmente revela padrões, anseios, instâncias e compulsões que operam em níveis abaixo do conhecimento consciente, e mesmo assim influenciam significativamente nossas escolhas, atitudes e diretrizes na vida. Empilhadas em nossa memória inconsciente, experiências passadas colorem a maneira como vemos e achamos o mundo. Mas a que distância para trás estas influências do passado se originam?

Em alguns casos, os planetas e os signos na 12ª Casa podem contar com o que os psicólogos chamam de "o efeito umbilical". Segundo esse conceito, o embrião em desenvolvimento é receptivo, não só a substâncias físicas que a mãe ingere mas é também afetado pelo seu estado psicológico geral durante o período de gestação. Suas atitudes e experiências são transmitidas através do cordão umbilical ao feto, dentro do útero. A natureza do que é transmitido à criança desta maneira é mostrada pelos posicionamentos da 12ª Casa. Se Plutão se encontra aí, a mãe pode ter sofrido alguma experiência traumática durante a gravidez. A criança nasce então com uma sensação de perigo de vida e uma incômoda apreensão de que a condenação está logo ali, virando a esquina. Não existe memória consciente da origem dessa atitude; existe apenas a vaga impressão do que é esta vida. Por exemplo, recentemente acompanhei o caso de uma mãe grávida com um diagnóstico de tumor no cérebro. Sua filha nasceu com Plutão na 12ª Casa e a mãe morreu logo depois de seu nascimento.

E o que aconteceu antes do útero materno? Muitos astrólogos se referem à 12ª Casa como a "casa do carma", Os reencarnacionistas acreditam que a imortal alma humana encontra-se num caminho de aperfeiçoamento e de retorno à sua origem que não pode ser completado no curto espaço de uma vida. Leis definitivas, em vez do acaso, operam para determinar as circunstâncias de cada tempo de vida ou de cada estágio de nossa residência provisória. Em cada nova encarnação trazemos conosco aquilo que colhemos em experiências de vidas anteriores, bem como as capacidades latentes que aguardam desenvolvimento. Causas colocadas em movimento em existências anteriores afetam aquilo que encontramos na presente. A alma escolhe um determinado tempo para nascer, pois as normas astrológicas estabelecem as experiências necessárias para o presente estágio de crescimento. Neste sentido, todo o mapa representa o nosso carma - tanto o que provém do resultado de nossas ações passadas como o que é necessário despertar em nós para continuar. Mais especificamente, a 12ª Casa mostra o que estamos "trazendo" do passado que vai operar nesta vida seja como débito ou como crédito em nossa conta.

Difíceis posicionamentos de 12ª Casa podem indicar antigos "pontos fracos" e energias mal utilizadas em vidas anteriores, e que ainda temos de aprender a usar sabiamente na atual. Posicionamentos positivos nesta casa sugerem qualidades entranhadas que nos servirão vantajosamente nesta vida como resultado de "trabalho" feito sobre elas no passado. Com relação a esta teoria, alguns astrólogos chamam a 12ª Casa de "auto-sustentação ou autodestruição". Por exemplo, um Marte ou Áries nesta posição, poderia significar que o egoísmo, a impulsividade ou a pressa tenham sido um problema no passado e a continuação de tal comportamento poderia ser a causa de uma "queda" nesta vida. Por outro lado, numa 12ª Casa bem aspectada, Marte sugere que as qualidades positivas dele, tais como coragem, força e franqueza, já foram aprendidas e que sustentarão o nativo em tempos difíceis, aparecendo justamente quando são mais necessárias. Aspectos mistos a posicionamentos na 12ª Casa mostram que o efeito deste planeta ou desta energia fica, de algum modo, em suspenso como que sendo testado para ver como manipulamos este princípio. Se o usamos sabiamente, seremos premiados; se desgastamos o planeta ou o signo em questão, as conseqüências tendem a ser bastante severas.

Referindo-nos ao "efeito umbilical" ou à teoria do carena e da reencarnação, os posicionamentos da 12ª Casa descrevem influências que recaem sobre nós de causas e origens que obviamente não podemos lembro ou ver. Através da 4ª Casa de Água herdamos ou retemos vestígios de nossa ancestralidade. Na 12ª Casa, é possível que sejamos receptivos a uma combinação ou memória ainda maiores - aquilo que Jung chamou de "inconsciente coletivo": a memória inteira de toda a raça humana. Jung definiu o inconsciente coletivo como "a precondição de cada psique individual, do mesmo modo que o mar é o transportador da onda individual". De alguma maneira, como é mostrado na 12ª Casa, cada um de nós está ligado ao passado, trazendo registros de experiências muito anteriores àquelas que conhecemos pessoalmente.

Além do resíduo do passado, no entanto, o inconsciente coletivo é também um reservatório de potenciais latentes à espera de serem extraídos. Colin Wilson escreve que "a mente inconsciente pode incluir todo o passado do homem, mas inclui também o seu futuro". A mente inconsciente é mais do que um mero reservatório de idéias, impulsos e desejos reprimidos ou queimados; é também a fonte de "potencialidades de conhecimento e experiência" que o indivíduo ainda quer contactar. A 12ª Casa, em outras palavras, contém tanto o nosso futuro como o nosso passado.

Algumas pessoas com posicionamentos na 12ª Casa atuam como mediadoras e transmissoras de imagens universais, míticas e arquetípicas que giram no nível do inconsciente coletivo. Em vários níveis, artistas, escritores, compositores, atores, lideres religiosos, curandeiros, místicos e profetas atuais tocam este reino e se tornam os veículos de inspiração para outros. Com aquilo que eles sintonizaram, tocam o acorde certo, que então ressoa dentro de nós, tornando-nos capazes de compartilhar de sua experiência. Inúmeros exemplos de mapas com posicionamentos na 12ª Casa ilustram este fenômeno: o compositor Claude Debussy com a sensual Vênus em Leão na 12ª Casa; William Blake com a imaginativa e sensível Lua em Câncer nesta casa; o poeta Byron - cuja maneira expansiva e jocosa de usar a palavra, a rima e a forma, revigorou todo o movimento romântico - tinha Júpiter em Gêmeos na 12ª Casa; e o visionário Pierre Teilhatri de Chardin com Sol, Netuno, Vênus, Plutão e a Lua todos na 12ª Casa são apenas alguns casos explicativos.

É como se as energias da 12ª Casa não tivessem de ser usadas somente para fins pessoais. É possível que nos seja pedido expressar este princípio pelo bem dos outros, não só para nós. Por exemplo, se Marte se encontra nesta posição, podemos fazer o papel de batalhadores da causa de outros. Neste sentido, anulamos o nosso Marte ou o oferecemos aos outros. Mercúrio na 12ª Casa entende as preocupações dos outros ou serve de porta-voz a eles.

Algumas pessoas, através dos posicionamentos da 12ª Casa, levam o que pode ser chamado de "vidas simbólicas". Seu modo de vida individual reflete as tendências ou os dilemas numa atmosfera coletiva. Por exemplo, Mahatma Gandhi com Sol em Libra na 12ª Casa tornou-se o pensamento vivo do principio libriano de coexistência pacifica para milhões de pessoas. Urano na 12ª Casa do mapa de Hitler tornou-o excepcionalmente aberto a ideologias que pairavam no ar naquele tempo. Bob Dylan tem Sagitário na cúspide da 12ª Casa e seu regente, Júpiter, na 5ª, a área do mapa relativa à expressão criativa; através de sua música ele foi a boca e a inspiração de muitas das tendências de contra-cultura dos anos 60. Uma mulher negra com Urano em Câncer na 12ª nasceu e cresceu numa parte da Inglaterra em que praticamente só havia brancos. Tendo de integrar-se na vida da cidade, ela não estava lidando somente com seu próprio dilema pessoal, mas também lutando pela causa de muitos outros negros.

A 12ª Casa tem sido chamada de a casa dos "inimigos secretos" e das "atividades por baixo do pano". Isso pode significar literalmente pessoas que intrigam ou conspiram contra nós. No entanto, mais parecem ser fraquezas ocultas ou forças dentro de nós mesmos que minam a realização de nossos objetivos e metas conscientes. Enfim, impulsos inconscientes como mostrados pelos posicionamentos da 12ª Casa são também capazes de impedir a realização de nossas aspirações conscientes. Por exemplo, se um homem tem a Lua e Vênus na 7ª Casa existe uma forte ansiedade por estar junto a outra pessoa em relacionamento intimo; por outro lado, se este homem tem também Urano na 12ª, isso sugere que inconscientemente pode haver um tão forte desejo por liberdade e independência que ele vai sabotar de algum modo qualquer tentativa de estreitar laços afetivos. Em geral, em qualquer luta entre aspirações conscientes e inconscientes, o inconsciente vence. Neste caso, o indivíduo pode ser costumeiramente atraído por mulheres que não são livres para casar ou que, por alguma razão, não retribuem seus avanços. Desta maneira, o impulso de continuar independente (Urano na 12ª) mantém-se vitorioso sobre as necessidades conscientes. Se existem pressões morais conscientes dentro de nós, podemos fazer algo para regulá-las e alterá-las, caso assim o desejamos. Se não estivermos conscientes de certos impulsos e regras, estes abrem caminho para nos dominar e controlar. Aquilo que é inconsciente dentro de nós tem uma habilidade de vir por trás e nos atingir na cabeça. Por este motivo, não importa o quanto tentemos, algumas metas conscientes são continuamente bloqueadas e precisamos examinar a 12ª Casa para encontrar uma pista da razão pela qual isso acontece.

A ligação da 11ª Casa com instituições tem sentido à luz das várias conotações desta casa já discutidas até agora. A 12ª Casa mostra o que está escondido ou o que se encontra por trás das coisas, como hospitais e prisões são, em parte, lugares onde determinadas pessoas vivem segregadas da sociedade. Aqueles que têm difíceis posicionamentos da 12ª Casa podem desmoronar sob a pressão da vida ou cair sob a presa de poderosos complexos inconscientes que irrompem na superfície, resultando numa necessidade de serem assistidos e contidos. Outros são postos de lado por serem considerados perigosos ao bem-estar da sociedade. Em qualquer desses casos, a vontade de uma autoridade maior é forçada sobre eles conforme o princípio da 12ª Casa de submissão individual a algo maior do que o self. Uma hospitalização ou um período de afastamento da vida pode ser necessário para restabelecer o equilíbrio psicológico e físico, tornando a pessoa novamente inteira - outro principio da 12ª Casa. Experiências em orfanatos, hospícios e tratamento de deficientes também aparecem via 12ª Casa.

Não é estranho encontrar pessoas com posicionamentos nesta casa trabalhando em tais instituições. Servir a outros menos afortunados que eles é a expressão prática da compaixão e da simpatia que a 12ª Casa confere. A Igreja, certas obras de caridade ou a vida monástica são outras esferas que absorvem a pessoa que sente ser este o seu chamado para sacrificar ou dedicar a vida a Deus ou ao bem-estar dos outros. Os reencarnacionistas acreditam que um mau carena passado pode ser redimido através de boa vontade e serviços desse tipo.

Como já mencionamos, a 12ª Casa dá acesso ao arquivo coletivo de experiências passadas de geração em geração. Por isso, não é de surpreender que os guardiões deste armazém, aqueles que trabalham em museus ou bibliotecas, tenham muitas vezes posicionamentos próprios da 12ª Casa.

Não seria correto discutir a 12ª Casa sem mencionar mais uma vez a pesquisa feita por Michel e Françoise Gauquelin. Eles analisaram as carreiras de esportistas vitoriosos e encontraram uma correlação de Marte na 12ª Casa. Cientistas e médicos também tendem a ter Saturno nesta posição. Escritores têm a Lua, e atores, Júpiter. Baseados em seus estudos, tudo indica que planetas na 12ª (e até certo ponto na 9ª, 6ª e 3ª casas) determinam significativamente o caráter e a profissão do nativo. Isso surpreendeu muitos astrólogos que achavam que posicionamentos na 1ª ou 10ª Casa deveriam ser mais fortes neste aspecto.

No entanto, será que tais descobertas são tão estranhas do ponto de vista que entendemos ser o da 12ª Casa? Se existe uma ânsia de "dar" tudo o que está na 12ª a outras pessoas, segue-se que poderíamos fazer carreira com base nos princípios ali contidos. E mais: se a 12ª Casa indica energias na atmosfera coletiva, às quais somos sensíveis, é provável que nosso caráter e expressão reflitam isso. Esportistas captam a ansiedade coletiva de competir e chegar primeiro (Marte). Escritores sintonizam a imaginação coletiva (Lua) e cientistas . servem à necessidade coletiva para classificar e estruturar (Saturno).

Uma vez que a 12ª Casa tem relação com a religação a algo caro e divino, um indivíduo pode vivenciar um planeta nesta posição com a chave ou a passagem para a grandeza e a autotranscendência. Naturalmente, a pessoa gostaria de desenvolvê-la. Em algum nível, ela pode acreditar que as portas do paraíso são abertas através da superação de qualquer princípio da 12ª Casa. A profunda ânsia, totalidade e imortalidade que existe em todos nós é a incitação que motiva a realização através dos planetas da 12ª Casa.

Para algumas pessoas, uma ênfase na 12ª Casa contribui para a falta de uma clara identidade, uma nebulosidade, vidas sem diretrizes, sacrifícios, sensação de opressão por parte de impulsos inconscientes ou subjacentes soltos na atmosfera, e um falso senso do valor do sofrimento e do autosacrifício. Por outro lado, o conceito da 12ª Casa de entregar-se ao sentimento de ser um self separado, dá vida à verdadeira simpatia e compaixão, a serviços altruístas, inspiração artística e, finalmente, à capacidade de estar num todo maior.

Na 11ª Casa teorizamos sobre a unidade e a falta de conexão de toda a vida. Em princípio isso é reconhecido. Na 12ª Casa, o mistério da nossa unidade com o resto da criação é percebido diretamente com todas as células do corpo. Toda a existência é sentida como parte de nós mesmos, do mesmo modo como as partes do nosso corpo são partes de nós. Com tal conhecimento, seria difícil ferir inadvertidamente outra pessoa como o seria cortar fora um de nossos dedos. Conseqüentemente, achamos que aquilo que deve servir ao nosso bem-estar individual servirá invariavelmente para o bem do todo.

Uma antiga história ilustra o lado positivo da 12ª Casa. Um homem tem permissão para visitar o paraíso e o inferno. No inferno ele vê uma grande reunião de pessoas sentadas em volta de uma longa mesa posta, com comida farta e gostosa; no entanto, as pessoas são pobres e esfomeadas. Ele logo percebe que a razão de se encontrarem em estado desesperador é que as facas e os garfos servidos são maiores que os braços dos comensais. Como resultado disso, eles são incapazes de levar a comida à boca e de se alimentar. Depois, mostra-se ao homem o paraíso. Ele encontra a mesma mesa posta. ali com os mesmos longos talheres. No paraíso, porém, em vez de as pessoas estarem somente preocupadas em se alimentar, cada uma usa seus talheres para alimentar ao próximo. Todas elas estavam bem-alimentadas e felizes.

Enquanto não perdermos totalmente nossa própria identidade pessoal ou o sentido de nossa individualidade única, temos de vivenciar, tomar conhecimento, honrar e nos ligar àquela parte de nós que é universal e ilimitada. Afinal, o truque é nadar nas águas da 12ª Casa sem afundar.

Emergimos da matriz universal da vida, nos estabelecemos como entidades individuais e, depois de tudo, achamos que somos realmente uma coisa só com a criação. Quer nossa conexão com o todo maior seja vivenciada conscientemente quer não, através da 12ª Casa é inevitável que nosso corpo físico morra e se desintegre. Quando o corpo morre, morre também o sentido de termos uma existência física separada. De um modo ou de outro, retornamos ao solo coletivo do qual viemos. O que havia no começo há no fim. Voltamos ao Ascendente para recomeçar uma nova volta da espiral.

11ª Casa

De ser esquecido por não ser ninguém, até conseguir ser reconhecido como alguém: este foi o caminho da 1ª à 10ª Casa. Mas agora que o ego foi firmemente estabelecido e devidamente conhecido, o que vai acontecer?

No plano mais profundo, a 11ª Casa (associada com o signo de Aquário e co regida por Saturno e Urano) representa a tentativa de ir além de nossa ego identidade e tornar nos algo maior do que já somos. O caminho certo para conseguir isso consiste numa identificação maior que o self tal como um círculo de amigos, um grupo, uma crença ou uma ideologia.

De acordo com a Teoria Geral de Sistemas, nada pode ser compreendido isoladamente, mas sim como parte de um sistema. Os componentes do sistema e seus atributos são vistos como funções de um sistema completo. O comportamento e a expressão de cada parte influenciam e são influenciados por todas as outras. Naquilo que é conhecida como uma sociedade de "alta sinergia" os objetivos do indivíduo estão em harmonia com as necessidades do sistema como um todo. Num sistema de "baixa sinergia" os indivíduos, ao realizarem suas próprias necessidades, não agem necessariamente pelo bem do todo. A maneira como funcionamos como parte de um sistema é mostrada pela 11ª Casa.

Obedecendo à sua dupla regência, o conceito de consciência grupal implícito na 11ª Casa, pode ser entendido de duas maneiras diferentes. Saturno procura maior segurança e um senso mais só1ido de identificação pelo fato de pertencer a um grupo o que os psicó1ogos rotulam de "identificação de pertença". Fazer parte de um certo grupo seja ele social, nacional, político ou religioso realça o sentido de quem somos e nos dá uma sensação de segurança em números. De certa maneira isto é uma façanha, uma vez que o resto do mundo é usado a serviço do aumento ou do reforço da identidade. A evidência disso é vista mais claramente naqueles demasiadamente preocupados em ter os amigos certos, ser notados nos lugares certos e alinhar seu self com as crenças certas. A face mais negativa deste Saturno subjacente na 11ª Casa manifesta-se quando um grupo é ameaçado por outro grupo - tal como negros se mudando para um bairro de brancos ou junguianos se mudando para uma vizinhança predominantemente freudiana.

O lado uraniano da 11ª Casa representa o tipo de consciência grupal que professores espiritualistas, místicos e visionários de diferentes culturas e tempos, repetidamente defenderam. Em vez do típico paradigma "eu aqui dentro" versus o "você aí fora" ou automodelo, eles falam da unidade do indivíduo com tudo o que é vivo; somos parte de um todo maior inter-relacionado com o resto da criação. Espelhando a percepção mística da unidade de toda a vida, recentes pesquisas científicas demonstram a rede de relacionamentos interligando tudo que há no universo. Por exemplo, David Bohm, um físico britânico, lançou a teoria segundo a qual o universo deve ser entendido como um "simples todo individido no qual partes separadas e independentes não têm qualidade fundamental". Uma análise profunda dos paralelos existentes entre a física moderna e o misticismo oriental é encontrada em O tao da física, de Fritjof Capra, um eminente pesquisador de alta energia física. Alguns paralelos que ele relata são tão surpreendentes que é quase impossível determinar se certos relatos sobre a natureza da vida foram elaborados por cientistas modernos ou místicos orientais.

Uma recente teoria proposta por um psicólogo britânico, Rupert Sheldrake, é particularmente relevante para a 11ª Casa. Sheldrake sugere a possibilidade de invisíveis campos organizadores que regulam a vida de um sistema. Em 1920, William McDougall da Universidade de Harvard estava estudando a rapidez com que os ratos aprendiam a escapar de um labirinto cheio de água. Nessa mesma época, outros pesquisadores na Escócia e na Austrália que vinham repetindo estas experiências acharam que sua primeira geração de ratos reproduzidos de outra linhagem que as de McDougall conseguiram o feito com o mesmo grau de habilidade que os de McDougall, de última geração. A perícia foi de algum modo "transmitida" para outros ratos em outras partes do mundo. Estas ocorrências levaram Sheldrake à teoria de que, se um membro de uma espécie biológica aprende um novo comportamento, o campo organizador invisível (campo morfogenético) para tal espécie, muda. Os ratos que conseguiram o feito tornaram possível a outros ratos, a muitas milhas de distância, fazer o mesmo. Em algum nível profundo estamos todos ligados uns aos outros. A teoria de Sheldrake foi primorosamente resumida pelo padre jesuíta Pierre Teilhard de Chardin, nascido com Mercúrio, Júpiter e Saturno na 11ª Casa. "Quando uma verdade aparece pela primeira vez, seja numa única mente, sempre acaba se impondo à totalidade da consciência humana".

Em A conspiração aquariana, Marilyn Ferguson escreve: "Você não pode entender uma célula, um rato, uma estrutura cerebral, uma família ou uma cultura se os isolar de seu contexto". Da mesma maneira, Carl Rogers, um dos fundadores da psicologia humanística observou que quanto mais fundo o indivíduo mergulha em sua própria identidade, mais ele descobre toda a raça humana. Nossa identidade tem uma associação maior do que o "ego encapsulado em pele" é capaz de admitir. Visto sob este ângulo, o desenvolvimento da consciência grupal como é visto na 11ª Casa não serve unicamente ao propósito de engrandecer ou reforçar a identidade do Ego. Antes, o conhecimento de sermos parte de algo maior nos dá condições de transcender os limites e as fronteiras de nossa separação individual e de nos sentirmos como uma célula num corpo maior de humanidade. Desta percepção nasce um sentido de irmandade para com os co-habitantes do planeta muito além dos obrigatórios laços de família, nação ou igreja.

Sintropia - a tendência da energia vital de se dirigir para uma maior associação, comunicação, cooperação e conhecimento - é o principio básico através do qual a 11ª Casa opera. Tendo-nos reconhecido como indivíduos separados e distintos, há uma chamada para uma nova ligação com tudo aquilo de que nos diferenciamos anteriormente.

Do mesmo modo que a natureza se organiza em células vivas, da mesma forma que células vivas se reúnem em organismos multicelulares, pode acontecer que em algum estágio seres humanos se integrem em algum tipo de superorganismo global. Mesmo no nível saturnino, a interdependência e a interconexão devida no planeta está se tornando cada vez mais óbvia. A tecnologia de comunicações aumentou dramaticamente a velocidade da interação global, e o conceito de Marshall McLuhan do mundo como uma "aldeia global" está perto de se tornar verdadeiro. Corporações e conglomerados multinacionais reúnem inexplicavelmente as economias do mundo. O colapso do sistema monetário de um país teria um efeito desastroso sobre muitos outros. O isolacionismo e o nacionalismo praticamente não são mais viáveis. Em outro plano, pequenos grupos, redes, sistemas de movimentos e de sustentação vêm proliferando em todo o mundo aglutinando pessoas para promover causas comuns. Enfim, quase da mesma maneira como 0 nosso corpo se modifica e se desenvolve, o grande corpo da humanidade também está crescendo e evoluindo. A maneira pela qual poderíamos participar e servir à evolução e ao progresso deste self coletivo é mostrada pelos posicionamentos na 11ª Casa.

Na 5ª Casa, nossa energia é usada para nos distinguir dos outros e para aumentar o sentido do nosso valor e qualidades individuais. Na 11ª Casa, nossa energia pode ser investida em promover e realizar a identidade, propósito e causa de qualquer grupo a que pertençamos, quer isto seja entendido como sendo toda a raça humana ou um particular segmento dela. Na Sá Casa fazemos o que queremos em causa própria. Na 11ª Casa podemos escolher, abandonar ou conciliar algumas de nossas preciosas vontades pessoais, inclinações e idiossincrasias em consideração ao que o grupo decida que é melhor.

Consciência social á a palavra-chave para a 11ª Casa. Uma sociedade (10ª Casa) estrutura-se segundo certas leis e princípios (9ª Casa). Leis e sociedade facilmente se cristalizam e se dilatam, e invariavelmente certos elementos da sociedade são favorecidos pelo sistema enquanto outros são oprimidos. Grupos que se sentem negligenciados ou traídos pelas leis existentes podem encontrar uma expressão através de certas reformas associadas com a 11ª Casa. Muitas vezes aqueles que têm fortes posicionamentos nesta casa trabalham através de grupos humanitários ou políticos para implementar mudanças sociais necessárias. No entanto, também é bastante comum encontrar outros com ênfase na 11ª Casa badalando de um compromisso social para outro. Nesta semana, Ascot, as quadras de Wimbledon na seguinte, e depois um dia em Henley, antes de ir à ópera em Glyndebourne.

Em alguns casos, os posicionamentos na 11ª Casa podem significar o tipo de grupos em cuja direção gravitamos. Por exemplo, Netuno poderia estar interessado em sociedades musicais, em grupos psíquicos ou espiritualistas. Urano faria o mesmo com grupos de astrologia, e Marte com o clube local de futebol. No entanto, além de apenas descrever o tipo de grupo, é mais provável que os signos e os planetas na 11ª Casa simbolizem a maneira de nos comportar e interagir em situações de grupo. O Sol ou Leão nesta posição pode ter de ser o líder tendo como base uma boa proporção de seu valor e de sua identidade do envolvimento com o grupo. Mercúrio ou Gêmeos nesta casa pode aparecer como a secretária do grupo ou como um de seus mais esclarecidos porta-vozes. Alguém tem de fazer o chá, e a Lua ou Câncer nesta posição pode ficar feliz em providenciar não só este serviço como também em colocar sua casa à disposição como local de encontro. Ademais, a 11ª Casa dá o sentido de quão bem nos sentimos em situações de grupo. Vênus ou Libra conseguem isso facilmente e fazem muitos novos amigos quando entram num grupo. Saturno ou Capricórnio é bem capaz de se afastar do grupo e se sentir sem graça e estúpido misturando-se com os outros. Oscar Wilde, que atingiu grande sucesso nos meios artístico e social de Londres, tinha a Lua em Leão na 11ª Casa. Paul Joseph Goebbels, o oficial encarregado da divulgação do partido nazista que controlava as comunicações públicas e a mídia, tinha Plutão conjunção Netuno em Gêmeos nesta casa.

A amizade enquadra-se perfeitamente no ideal da 11ª Casa de nos tornarmos maiores do que realmente somos. As pessoas se unem através da amizade, as fronteiras pessoais se ampliam e tanto as necessidades como os recursos dos outros acabam entrelaçados com os nossos. Apresentamos aos nossos amigos novas idéias e interesses, do mesmo modo que somos envolvidos por aquilo que eles têm para compartilhar conosco.

Os planetas e os signos na 11ª Casa muitas vezes descrevem os tipos de amigos pelos quais somos atraídos. Por exemplo, um homem com Marte nesta casa pode ser atraído por pessoas que tenham óbvias qualidades marcianas, tais como dinamismo, iniciativa e capacidade de comando. No entanto, os posicionamentos na 11ª Casa também podem mostrar qualidades que não possuímos, que projetamos para fora e que encontramos externamente através de amigos. Se o homem com Marte na 11ª Casa não desenvolveu seu lado marciano e lhe falta um certo empurrão tipo "Levanta-te e anda", seus amigos lhe oferecerão esta energia, estimulando-o e levando-o à ação. Ele pode, inclusive, possuir uma incomum habilidade para evocar tais qualidades nos seus colegas de trabalho mais próximos que, em outras situações e com outras pessoas seriam normalmente mais calmos e tranqüilos.

A 11ª Casa também sugere a maneira como fazemos amigos. Marte pode correr impulsivamente para uma amizade, enquanto Saturno é mais sem jeito, tímido ou cauteloso a esse respeito. Como nos portamos e que energias despertamos nas amizades também é mostrado pelos posicionamentos aqui. Vênus pode fazer amigos facilmente mas prefere deixar as coisas acontecerem (ela também pode esperar que os amigos "apareçam" com ideais um pouco mais elevados). Plutão sugere associações intensas e complicadas que nos transformam significativamente ou nas quais apareçam situações de traição, intriga e deslealdade.

Na 11ª Casa existe o desejo de transcender ou de ir além de símbolos existentes e de modelos de nós mesmos. Ansiamos por um self mais ideal ou por uma sociedade mais utópica. Por esse motivo, esta parte do mapa foi rotulada como a casa das esperanças, das metas, dos desejos e dos objetivos. O desejo de sermos algo maior do que somos tem de ser acompanhado pela capacidade de considerar novas e diferentes possibilidades. Mais do que qualquer outra espécie, o grande cérebro humano e o desenvolvido córtex cerebral dota os seres humanos com a capacidade de imaginar um amplo leque de alternativas, opções e saídas. A maneira como encaramos as possibilidades e avançamos para realizar tais esperanças e desejos é mostrada pelos posicionamentos na 11ª Casa. Por exemplo, Saturno nesta posição, pode ter dificuldade em formar imagens positivas do futuro ou ter de enfrentar obstáculos, atrasos ou obstruções no meio do caminho para finalmente alcançar suas metas e seus objetivos. Marte estabelece uma meta e a persegue, enquanto Netuno pode se confundir sobre o que realmente quer, ou apenas fantasiar e sonhar acordado com desejos imaginários. Neste contexto, vale lembrar que quanto mais claramente podemos imaginar a possibilidade, mais perto ficamos de concretizá-la. O estímulo de visões positivas do futuro ajuda no processo de caminharmos numa direção mais positiva.

A evolução impele a níveis cada vez maiores de complexidade, organização e associação. Na 1ª Casa de Ar (a 3ª), através da linguagem recebemos a habilidade de distinguir a pessoa do objeto. Nossa mente desabrocha quando nos relacionamos com os outros em nosso ambiente próximo. Na 2ª Casa de Ar (a 7ª) crescemos através do contato íntimo de nosso próprio conhecimento com o conhecimento de outra pessoa. Pessoa e objeto diferenciados na 3ª se encontram frente a frente na 7ª. Na última casa de Ar (a 11ª), nossas mentes individuais estão ligadas, não só com as mentes dos que nos são caros, mas com todas as outras mentes. Os planetas da 11ª, Casa sensibilizam uma pessoa para as idéias e os pensamentos que circulam no nível da mente grupai. Não é um fenômeno incomum para uma pessoa em San Francisco, outra em Londres e outra no Japão terem flashes de uma nova e mesma idéia brilhante, independentemente uma da outra, dentro de um pequeno espaço de tempo. Na 11ª Casa descobrimos nosso parentesco, não só com nossa família, nossos amigos, nosso país ou aqueles a quem amamos, mas com toda a raça humana.

Meio do Céu e a 10ª Casa

Tudo aquilo com que a 9ª Casa sonha, a l0ª Casa traz para a Terra. No sistema quadrante de divisão de casas, o Meio do Céu o grau da eclíptica que fica no ponto mais alto do meridiano de qualquer ponto marca a cúspide da 10ª Casa. O Meio do Céu é o ponto mais elevado do mapa e aqui, simbolicamente, os posicionamentos "aparecem" acima de todos os outros do horóscopo. As qualidades de qualquer signo ou planeta nesta posição correspondem àquilo em nós que é mais visível e acessível aos outros, aquilo que "aparece" em nós. Considerando que o Fundo do Céu e a 4ª Casa (a casa oposta) representam aquilo que somos em nossa privacidade e como nos comportamos em nossos lares, atrás de portas fechadas, o Meio-do Céu e a 10ª Casa (naturalmente associada com Saturno e Capricórnio) indicam como nos comportamos publicamente, a imagem que queremos apresentar ao mundo os tipos de roupas que usamos quando "aparecemos". Liz Greene chama o Meio do Céu e a 10ª Casa de nossa "taquigrafia social" a maneira pela qual gostaríamos de ser vistos pelos outros e como nos descrevemos a eles.

Ainda com relação à elevada posição do Meio-do Céu, posicionamentos nesta área do mapa sugerem qualidades pelas quais queremos ser admirados, elogiados, apreciados e respeitados. É através dos signos e planetas nesta posição que esperamos conseguir realizações, honra e reconhecimento. Posicionamentos da 10ª Casa mostram aquilo que mais gostaríamos que fosse lembrado como nossa contribuição para o mundo. Esta é a casa da ambição, atrás da qual oculta se a urgência e a compulsão de ser considerado e conhecido. Os gregos antigos acreditavam que se conseguissem uma morte verdadeiramente nobre e heróica seriam recompensados e formariam uma constelação nos céus para que todos os vissem por toda a eternidade. Além do reconhecimento recebido, ser famoso significa estar na mente das pessoas para sempre. O ego isolado, tão temeroso de sua própria limitação, acha esta idéia tranqüilizadora.

A natureza de nossa contribuição para a sociedade, nosso status e lugar no mundo são mostrados pelo signo do Meio-do-Céu, pelos planetas na 10ª, Casa e, como sugerem os estudos de Gauquelin (veja páginas 109-110), qualquer planeta na 9ª Casa junto ao Meio-do-Céu. O planeta regente do signo do Meio-do-Céu e seu posicionamento por signo, casa e aspecto também nos elucida sobre carreira e vocação. No entanto, outras áreas do mapa também têm considerável relação com o sucesso na profissão (assim como a 6ª Casa, a 2ª Casa, os aspectos do Sol etc.), e o mapa de nascimento como um todo tem de ser cuidadosamente avaliado para se aconselhar alguém sabiamente a este respeito.

Em alguns casos, os signos e os planetas na 10ª e na 9ª Casa próximos ao Meio-do-Céu podem literalmente descrever a natureza da carreira de um indivíduo. Por exemplo, Saturno nesta posição tende a indicar um professor, um juiz ou um cientista; Júpiter, um ator, um filósofo ou um agente de viagens; e a Lua um pedagogo ou um hoteleiro. Thomas Mann, o famoso escritor alemão, tinha o comunicativo signo de Gêmeos no Meio-do-Céu e Mercúrio na 10ª Casa. Franz Schubert, o compositor austríaco tinha o musical signo de Peixes no Meio-do-Céu e Netuno, seu regente, na 5ª, a casa da expressão criativa.

No entanto, é mais seguro presumir que as posições junto ao Meio-do-Céu e da 10ª Casa sugerem, não tanto a própria profissão mas sim a maneira como a pessoa chega a uma carreira - o modo pelo qual o trabalho é dirigido ou desenvolvido. O juiz com Saturno na 10ª seguirá melhor a aplicação da lei do que um juiz com Urano nesta posição, pois suas sentenças seriam mais individualistas, inconvencionais e chocantes.

Os tipos de energia que exibimos ou encontramos nesta procura de uma vocação são também sugeridas por posicionamentos na 10ª Casa. Saturno ou Capricórnio nesta posição trabalhariam longa e pacientemente para chegar lá em cima; Marte ou Áries são agressivos e impacientes nesta esfera da vida, enquanto Netuno ou Peixes podem ser vagos ou confusos diante do seu papel na sociedade.

A 10ª Casa poderia também descrever aquilo que representamos ou simbolizamos para os outros. Marte tende a ser visto como um insolente ou como uma fortaleza de coragem e firmeza; Netuno como um santo ou um mártir, defensor dos derrotados ou vítima de si mesmo; e Vênus poderia simbolizar a sinopse da classe, do bom gosto e da beleza.

Se a 4ª Casa está associada ao pai, então a 10ª Casa relaciona-se com a mãe. No começo da vida, ela é todo o nosso mundo. As ligações da primeira infância estabelecidas com ela serão refletidas mais tarde na vida pelo modo como nos relacionamos com o mundo exterior em geral. Em outras palavras, a natureza daquilo que se passa entre mãe e filho (como mostrado pelo Meio-do-Céu e os posicionamentos da 10ª Casa) reafloram num posterior estágio de desenvolvimento como nossa maneira de nos relacionar com a sociedade e o mundo "de fora" como um todo. Se achamos nossa mãe ameaçadora e potencialmente destrutiva (como um aspecto difícil de Plutão na 10ª Casa pode sugerir) mais tarde o mundo vai nos parecer um lugar inseguro e tentaremos nos defender de acordo. Se nossa mãe sempre nos deu apoio e ajuda (posicionamentos bem aspectados na 10ª, teremos a expectativa de que o mundo vai nos tratar da mesma maneira - aquilo que Erik Erikson chama de confiança básica.

Se associarmos a 10ª Casa tanto com a mãe (dos pais aquele que dá a formação) como com a carreira, a escolha da vocação pode ser influenciada, de certo modo, pela nossa experiência com ela. Por exemplo, se Marte está na 10ª Casa, a mãe foi sentida como mandona e dogmática. Por esta razão, a criança guarda ressentimentos e tem raiva dela; cresce com o desejo de conseguir uma posição de poder e uma autonomia na vida para não ser "mandada" como aconteceu quando era ainda muito infantil. Lutar com a mãe cria um modelo de luta com o mundo.

Às vezes o desejo de conseguir o amor da mãe (assegurando assim nossa sobrevivência) marca a escolha da profissão. Por exemplo, se Mercúrio se encontra na 10ª Casa, a mãe pode ter sido sentida como significativa e inteligente. A criança então sente que é isso o que a Mãe aprecia e que é a isso que ela dá valor e tenta assim ganhar seu amor e seu carinho desenvolvendo tais aptidões. Uma expectativa estabelecida é a de que, distinguindo-se desta maneira, consegue o reconhecimento e, nesta proporção, pela vida afora, a carreira é tomada como algo que mostra as qualidades características de Mercúrio.

Em alguns casos pode ser a competição com a mãe o que nos impulsiona na direção de determinada carreira. Se Vênus está na 10ª Casa a mãe pode ser vista talvez como glamourosa e linda. Em certo sentido, Vênus foi projetada na mãe. A fim de solicitar suas próprias qualidades venusianas, a criança, mais tarde, pode procurar uma profissão na qual ela mesma seja admirada como linda, elegante e de bom gosto.

Muito simplesmente, a 10ª Casa descreve estas qualidades da mãe (ou de um dos pais em questão) que também estão dentro de nós, quer gostemos quer não. A saída é complicada, no entanto, pela possibilidade de os posicionamentos da 10ª Casa designarem aspectos da personalidade da mãe que nunca foram vivenciados - atributos e características que a mãe não expressa ou representa conscientemente durante os anos de crescimento da criança. Os planetas e os signos nesta casa tendem a descrever a maneira como a mãe teria gostado de ser se alguma vez se tivesse dado a oportunidade de fazê-lo. Uma criança terrivelmente sensível à psique da mãe e aos subentendidos que ficam latentes no lar, será receptiva não só àquilo que ela manifesta abertamente mas também àquilo que ela nega ou suprime. A criança pode ser inclinada a "vivenciar" o lado sombrio da mãe, como se a mãe se tornasse mais inteira ou redimida dessa maneira. A mãe de uma criança com Urano na 10ª Casa, por exemplo, pode parecer extremamente convencional, direita e limitada por um lado, enquanto abaixo da superfície se ocultam sentimentos explosivos e o desejo de espaço, de liberdade e de "se largar". De algum modo, este lado uraniano carregado é comunicado à criança, que cresce com uma compulsão para representar justamente aquelas qualidades às quais a mãe não dava livre expressão.

O posicionamento de muitos planetas na 10ª Casa geralmente sugere alguém ambicioso e desejoso de reconhecimento, status e prestígio. Aos homens, normalmente é dada maior liberdade para dedicar-se a essas necessidades do que à mulher. Deveria ser mais fácil para uma mulher com uma 10ª Casa forte procurar um parceiro poderoso ou famoso e com isto conseguir uma boa posição no mundo. Ela pode ser aquela que o incentiva para a fama e o prestígio; no entanto, intimamente ela pode se ressentir dos aplausos que o marido recebe e que não são para ela, e consciente ou inconscientemente encontrar maneiras de puni-lo por isso. Do mesmo modo, um ou ambos os pais com uma 10ª Casa forte tendem a deslocar a necessidade de realizações e reconhecimento não preenchidos para a criança. Algumas crianças podem cooperar com a projeção enquanto outras tendem a se rebelar contra ela, muitas vezes tornando-se exatamente o oposto daquilo que os pais esperavam.

A 10ª Casa se estende por trás da mãe ou do parente modelo para designar nosso relacionamento com figuras de autoridade em geral. Rancores ou feridas na primeira infância, por ter sido repreendido ou destratado por um dos pais, muitas vezes tendem a distorcer a realidade de futuras relações com outros símbolos de poder. O revolucionário pode defender uma causa verdadeira e justa mas o modo, espécie ou intensidade pela qual ele ou ela adere a convicções tende a revelar, de um ponto de vista reduzido, a contaminação de reminiscências infantis provenientes do comportamento dos pais. Isso não deve ser para menosprezar ou julgar aqueles que discutem o que é injusto em sociedade, mas são bem aconselhados a considerar sua 102 Casa e suas implicações psicológicas. Dar um soco na cara do chefe ou jogar ovos no primeiro-ministro é uma maneira de descarregar a criança zangada que existe dentro de nós mas pode não ser a maneira mais efetiva para se promover a mínima modificação necessária.

Presidindo o alto do mapa, a 10ª Casa significa a realização da personalidade individual através da satisfação pessoal conseguida usando nossas habilidades e talentos para servir e influenciar a sociedade. Alguns podem até receber aplausos e reconhecimento públicos por seu grande valor e mérito.

Um longo caminho foi percorrido da 1ª Casa até a 10ª. Na primeira, nós não estávamos sequer conscientes de nós mesmos como entidades separadas, nem sabíamos de nossa existência individual. No momento em que a 10ª Casa é alcançada, no entanto, já nos desenvolvemos e "encarnamos" o suficiente não só para te: um sentido mais sólido e concreto de quem somos mas também para termos maior consideração por ele.





9ª Casa

A 8ª Casa implica invariavelmente em certo grau de dores, crises e sofrimentos. Felizmente, ao sobreviver a estes tempos difíceis, emergimos renovados, depurados e mais conhecedores de nós mesmos e da vida em geral. Tendo descido às profundezas e tentado encontrar uma maneira de sair novamente, ganhamos uma visão mais ampla que nos permite conceber a vida como sendo uma jornada e um processo de desdobramento. A fogosa 9ª Casa, naturalmente associada a Júpiter e Sagitário, se segue às águas turbulentas da 8ª e nos oferece uma ampla perspectiva de tudo que ocorreu até agora. Muita experiência foi acumulada para tentarmos formular algumas conclusões a respeito do significado e do propósito de nossa passagem por aqui.

A 9ª Casa é a parte do mapa mais diretamente ligada à filosofia e à religião - questões a respeito de "porquês e para quês" da nossa existência. É nesta posição que procuramos a Verdade, empenhando-nos em profundidade para compreender as regras existentes e as leis básicas que governam a vida. Em certo sentido, o sofrimento que ocorreu na 8ª Casa nos compele nesta direção pois a dor é mais facilmente suportada quando se nos apresenta algum resultado positivo por tê-la agüentado. E tem mais, se este sofrimento está de alguma maneira ligado a um insucesso na vida de acordo com as leis ou as realidades da existência, aí então descobrir e aderir a estas linhas de conduta pode aumentar o volume de dor que precisamos atrair sobre nós.

Seres humanos parecem ter necessidade de um significado. Aparentemente, precisamos de ideais absolutos e firmes aos quais possamos aspirar, e preceitos que sirvam para conduzir nossas vidas. Sem significado, é comum a sensação de não termos nenhum objetivo para viver, nenhuma esperança, nenhuma razão para lutar pelo que quer que seja, nem tampouco nenhuma diretriz na vida. Um grande número de psicólogos acredita que muitas neuroses comuns nos dias de hoje estão relacionadas com a falta de significado ou propósito na vida. Sem considerar se isso é verdade ou não, somos confrontados pela crença de que há algo maior "lá fora"; que existe um modelo coerente e que cada um de nós tem algum papel específico a desempenhar neste traçado. Em última instância, quer seja nosso dever criar nosso próprio significado de vida ou nossa tarefa em descobrir o plano e a intenção de Deus, a procura de linhas de conduta, finalidades e um propósito formam o enigma da 9ª Casa.

A 9ª Casa significa tudo o que é conhecido como "mente superior" - a parte da mente ligada à faculdade de abstração e ao processo intuitivo - em comparação com a mente concreta mostrada pela 3ª Casa. Mercúrio, o regente natural da 3ª e 6ª Casas é um acumulador de fatos, enquanto Júpiter, o regente natural da 9ª Casa, demonstra a capacidade de criar símbolos da psique e a tendência de impregnar determinado evento ou acontecimento com algum significado ou sentido. Os fatos são coletados na 3ª Casa, mas na 9ª Casa tiram-se conclusões a partir deles; fatos isolados são organizado dentro de um quadro mais amplo do esquema ou vistos como o produto inevitável de princípios organizadores mais elevados.

Enquanto a 3ª e a 6ª Casas são análogas à divisão mental e analítica d cérebro esquerdo, o processo associado à 9ª Casa (e à 12ª se refere à atividade do cérebro direito. O cérebro direito pode identificar uma forma sugerida com apenas alguns traços. Os pontos são mentalmente trançados para formar um modelo (padrão). Sintético e holístico, o cérebro direito pensa em imagens, vê o todo e detecta os modelos (padrões). Como diz Marilyn Ferguson, "o cérebro esquerdo vê por flashes, o direito assiste a filmes".

A 9ª Casa muitas vezes leva a acreditar que os acontecimentos têm uma mensagem contida neles. Júpiter ou Vênus na 9ª Casa, por exemplo, podem dar a impressão de que afinal tudo que acontece é positivo e ninguém precisa tirar vantagem, como se houvesse uma Inteligência Maior benigna trabalhando para guiar o nosso desenvolvimento. Saturno ou Capricórnio na 9ª Casa poderiam ter maior dificuldade em perceber um significado num acontecimento ou talvez interpretar seu significado de maneira negativa. Albert Camus, o filósofo e escritor existencialista francês, tinha Saturno em Gêmeos nesta casa; ele acreditava que os acontecimentos não têm um sentido mais elevado ou diferente do que aquele que os seres humanos lhes atribuem.

Os posicionamentos da 9ª Casa descrevem algo a respeito da maneira como seguimos uma filosofia ou uma religião, bem como sugerem o tipo de Deus que reverenciamos ou a natureza de filosofia que formulamos na vida. Por exemplo, Mercúrio ou Gêmeos nesta posição pode levar a um exame e a uma compreensão intelectual de Deus, enquanto Netuno ou Peixes predispõem a pessoa a aceitar a deidade com sincera devoção, entregando-se. Marte sugere uma aproximação dogmática e fanática na busca religiosa comparada com uma maior tolerância e flexibilidade mostrada por Vênus nestes assuntos. A imagem de Deus também é mostrada por planetas e signos nesta posição. Saturno ou Capricórnio podem conceber um Deus austero, punitivo, crítico e paternalista que deve ser obedecido a qualquer preço. Netuno ou Peixes na 9ª Casa, por outro lado, consideram Deus compassivo e afetuoso, inclinado à brandura e ao perdão.

A 3ª Casa rege o ambiente próximo e aquilo que é descoberto explorando-se tudo o que fica à mão. A 9ª Casa descreve a perspectiva que ganhamos quando nos afastamos para trás e olhamos a vida de uma certa distância. Deste modo, a 9ª Casa está ligada a viagens e longas jornadas. Viajar pode ser traduzido literalmente por jornadas a outras terras e culturas, ou pode ser compreendido simbolicamente como jornadas do espírito ou da mente - a ampliação de horizontes adquirida através de muita leitura, ou a introspecção desenvolvida através da meditação e da reflexão cósmica. Entendido mais literalmente, viajar e se misturar a pessoas que cresceram com tradições diferentes das nossas amplia nossa perspectiva de vida. O gosto e a expressão de certas culturas pode chamar nossa atenção mais que outras; mesmo assim algumas facetas das miríades de possibilidades de vida possíveis são vislumbradas e comparadas com a nossa própria. Viajar nos possibilita ver o mundo por uma perspectiva diferente. Eu posso estar envolvido num relacionamento complicado em Londres a respeito do qual me sinto confuso e incerto. No entanto, quando viajo para San Francisco e reflito sobre este relacionamento, de alguma maneira as 6.000 milhas de distância me ajudam a entender mais claramente do que quando o relacionamento está bem na minha frente. O resumo da experiência da 9ª Casa pode ser a vista do mundo fornecida pelo astronauta reentrando na atmosfera terrestre. Ali, num relance está o quadro todo - nosso planeta visto como um ente em relação ao espaço ilimitado. Nossa vidinha mundana de todos os dias assume uma proporção diferente após tal experiência. John Glenn, o primeiro americano a contornar a Terra fora da atmosfera tinha ambos, Netuno e Júpiter na 9ª Casa.

Os posicionamentos da 9ª Casa mostram os princípios arquetipais que encontramos em nossas viagens e que podem mesmo revelar algo sobre a natureza da cultura ou culturas para as quais somos atraídos. Por exemplo, um Saturno nesta posição, pode ter dificuldades ou atrasos em viagens ou viajar especificamente com um propósito prático, copio a serviço ou para estudos. Henry Kissinger, o embaixador americano para assuntos estrangeiros do governo Nixon tem Capricórnio na cúspide da 9ª Casa e Saturno, seu regente, em Libra, no signo da diplomacia. Se Plutão ou Escorpião estão na 9ª Casa, podemos atrair experiências em outros países que nos transformam profundamente, ou então somos compelidos a ir a um país que tenha Plutão ou Escorpião muito fortes em sua carta nacional. O Almirante Richard Byrd, o primeiro homem a voar para o Pólo Norte, tinha o inovador Urano nesta casa.

Voltando para mais perto da casa, os posicionamentos da 9ª Casa indicam os relacionamentos com os parentes do parceiro. Do mesmo modo que a 3ª Casa do Ascendente descreve nossos próprios parentes, a 3ª Casa do Descendente (a 9ª) descreve os parentes de nossos companheiros. Se tal relacionamento será cordial ou tempestuoso vai ser mostrado aí. Um parente do outro pode estar refletido num planeta da 9ª Casa ou receber a projeção deste princípio. Algumas pessoas com Júpiter na 9ª vêem o universo num grão de areia enquanto outros o percebem em sua sogra.

Viagens mentais são descritas na 9ª Casa, também conhecida como a casa da educação superior. O campo de estudo escolhido ou o tipo de colégio ou universidade a serem vividos são em geral mostrados pelos posicionamentos aqui. Por exemplo, Netuno na 9ª poderia indicar confusão ou vacilação na escolha de uma matéria de estudo, ou um desapontamento, ou uma desilusão, durante a estada na universidade. Urano pode se rebelar contra os sistemas tradicionais de ensino superior, ou seguir os estudos num campo de conhecimento completamente inédito, ou então ser a primeira pessoa a conseguir se classificar em Oxford aos sete anos de idade.

A lª Casa é o "Eu sou", enquanto a casa oposta, a 7ª, é o "Nós somos". A 2ª é "Eu tenho" enquanto a casa oposta, a 8ª é "Nós temos". Na mesma correspondência, a 3ª é o "Eu penso" e a 9ª o "Nós pensamos". A 9ª mostra-se através de estruturas codificadas em nível coletivo. Isso inclui não só os sistemas educacionais religiosos e filosóficos, como já dissemos anteriormente, mas também os sistemas legais e o conjunto de leis. A 7ª Casa representa a divisão em casas inferior ao horizonte, mas a 9ª representa a divisão superior - a suprema lei do país que governa as ações do indivíduo no contexto social mais amplo. Na 3ª, aprendemos a respeito de nós mesmos em relação àqueles que nos cercam de perto, mas na 9ª um sentido de nosso relacionamento ao coletivo como um todo é despertado. A 9ª Casa também é associada com a profissão voltada para publicações, na qual as idéias são disseminadas em larga escala.

Tradicionalmente, os planetas na 10ª Casa são associados com a carreira e a profissão. A pesquisa feita por M. e F. Gauquelin, no entanto, estabeleceu uma relação entre certos posicionamentos planetários da 9ª Casa e pessoas que alcançaram sucesso em campos relacionados com a natureza desses planetas. Uma discussão destas descobertas acha-se nas páginas 109-110.

Na 3ª Casa examinamos aquilo que está imediata e diretamente à nossa frente; na 9ª, não só vislumbramos o que está mais longe mas também aquilo que acontece e está para acontecer. Planetas fortes nesta casa propiciam um inusitado grau de intuição e previsão - a habilidade de sentir a direção que alguém ou alguma coisa estão tomando. A 9ª Casa "sintoniza" a vibração de uma situação, rapidamente registrando tendências e correntes no ar. Júlio Verne, o escritor de ficção científica, tinha um enorme dom de antecipar futuras descobertas; ele nasceu com Urano na 9ª Casa. Por um lado, a 9ª Casa dá o profeta e o visionário e por outro mostra a pessoa de relações públicas ou o promotor de novas aberturas para os outros. As energias da 9ª Casa podem ser expressas através de um agente de turismo que "escolhe para você as férias ideais"; o financista que lhe indica a melhor opção na Bolsa; o comerciante que lhe oferece a última descoberta psicotecnológica que promete iluminação instantânea num fim de semana; o técnico que eleva o moral de seu time antes de uma decisão importante; o apostador apontando o cavalo vencedor; ou o empresário artístico, literário ou teatral descobrindo o próximo grande talento.

Na 8ª afundamos no passado e dragamos o remanescente de nossa natureza primordial e instintiva. Na 9ª olhamos para o futuro e para o que ainda está por vir. Dependendo dos planetas e dos signos nesta posição e de seus aspectos, poderemos ver um futuro cheio de esperança e novas promessas ou então uma assombração que nos aguarda em cada esquina se formos loucos o suficiente para atravessarmos seu caminho. Fm qualquer dos casos é de bom alvitre refletir sobre uma frase de Santa Catarina que diz que "todos os caminhos para o paraíso são o paraíso".

8ª Casa

A 8ª Casa tem muitos títulos. Uma vez que ela é oposta à 2ª Casa , a "dos meus valores ou bens", costuma ser chamada de "a casa dos bens dos outros". Isso pode ser tomado quase ao pé da letra. Os signos e os planeta na 8ª Casa sugerem como nos portamos financeiramente no casamento, em relação a heranças e em associações de trabalho. Por exemplo, Júpiter nesta posição pode casar com muito dinheiro, receber uma boa bolada através de um legado, escapar por pouco do imposto de renda e fazer boas sociedades.

Um Saturno mal aspectado na Casa 8, por outro lado, pode se casar com alguém que declare falência no dia seguinte, herdar um monte de papagaios para pagar, ficar preso no rente fino do imposto de renda e fazer associações desastrosas. Não é nada difícil encontrar pessoas com muitos planetas na 8ª Casa em carreiras que lidam com o dinheiro dos outros, como banqueiros, corretores de valores, analistas financeiros e contadores.

No entanto, a 8ª Casa é muito mais do que s6 o dinheiro dos outros. Ela descreve "com quem vamos compartilhá-lo" e a maneira pela qual nos entrosamos com os outros. Elaborando e expandindo o que começamos na 7ª, a 8ª Casa é a essência dos relacionamentos: aquilo que acontece quando duas pessoas - cada uma com seu temperamento, seus recursos, seu sistema de valores, suas necessidades e seu relógio biológico - começam a aparecer. Uma superabundância de questões e conflitos está prestes a eclodir:

Tenho algum dinheiro e você também tem algum. Como vamos gastá-lo? Quanto devemos tentar guardar todos os meses? ou

Gosto de sexo três vezes por semana e você parece querer todas as noites. Quem vencerá? ou

Você acha que não bater é mimar demais a criança, mas eu insisto em que nenhum filho meu vai apanhar. Quem está com a razão? ou

Eu não sei como você pode ter amizade por aquele casal. Eles me irritam. Prefiro visitar meus amigos esta noite. Que amigos eles vão visitar afinal?

O roteiro que tem o propósito de nos encaminhar na felicidade do casamento parece bifurcar-se num feroz campo de batalha, dando mesmo a impressão de querer chegar a se transformar num cortejo fúnebre.

A 8ª Casa está naturalmente associada a Plutão e a Escorpião, sendo também rotulada como "a casa do sexo, da regeneração e da morte". No mito, a virginal Perséfone é raptada para o submundo por Plutão, o deus da Morte. Ela se casa com ele neste lugar e retorna ao mundo muito mudada, não mais uma garotinha, mas uma mulher. Relacionar-se profundamente com outra pessoa ocasiona uma espécie de morte, o deixar-se ir e romper as barreiras do nosso ego e de nossa identidade arraigada. Montemos como um Eu isolado e renascemos como Nós.

Da mesma forma que Perséfone, através do relacionamento somos mergulhados no mundo dos outros. No sexo e na intimidade expomos e partilhamos parte de nós que normalmente ficam escondidas. O sexo pode ser considerado apenas como um relaxamento que nos faz sentir bem temporariamente; ou, através do ato sexual, podemos viver uma espécie de autotranscendência, a união com um outro self. No mais elevado êxtase esquecemos de nós mesmos e nos abandonamos para nos fundir com o outro. Os elizabetanos referem-se ao orgasmo como à "pequena morte". Muito de nossa natureza sexual é mostrada pelos posicionamentos da 8ª Casa.

Relacionamentos são os catalisadores para as mudanças. A 8ª Casa purifica e regenera, trazendo para a superfície (normalmente através do relacionamento atual) problemas não-resolvidos de relacionamentos anteriores, sobretudo os vínculos da infância com a mãe ou com o pai. O primeiro relacionamento de nossa vida com a mãe, ou com a mãe substituta, é o mais marcante. Isso não é de surpreender, uma vez que nossa chegada depende dela. Todos nós entramos neste mundo como vítimas em potencial; a não ser que haja muito amor e proteção de alguém maior e mais apto que nós, nossas chances de sobrevivência são muito pequenas. A perda do amor da mãe não significa simplesmente a perda de uma pessoa chegada a nós: pode significar abandono e morte. Muitos de nós continuam a projetar esses mesmos conceitos infantis em suas relações futuras. O medo de que nosso parceiro não nos ame mais ou de que está nos traindo vai desencadear ou reavivar o medo primordial da perda de nosso objeto de amor original. Neste ponto pode parecer que nossa sobrevivência depende da preservação do atual relacionamento. Pedidos e afirmações como "se você me deixar eu morro" e "eu não posso viver sem você" revelam sentimentos muito carregados de dificuldades de relacionamentos na infância infiltrando-se na realidade da situação atual. É bem verdade que quando crianças teríamos morrido se nossa mãe nos deixasse, o que provavelmente não aconteceria; porém, como adultos somos bem capazes de cuidar da nossa sobrevivência. Através da exposição desses medos ocultos e não-resolvidos, as experiências e atribulações da 8ª Casa nos ajudam a tomar atitudes obsoletas e incômodas. Nem todo parceiro é a nossa mãe.

Podemos ainda somar a nossos medos irracionais uma boa medida de raiva e violência que às vezes sentimos e que desabafamos em nosso companheiro; é possível que ela seja "proveniente" de nossa infância. Crianças não são só doçura, carinho e amor. O trabalho da psicóloga Melanie Klein descreve um outro lado da natureza do bebê. Por causa de sua absoluta dependência, a criança pequena sente uma enorme frustração quando suas necessidades não são entendidas e descobertas. Nem mesmo a mãe mais atenta pode interpretar sempre, com precisão, o que um bebê que chora quer; invariavelmente, a frustração da criança irrompe numa violenta hostilidade. Uma vez que estas primeiras experiências deixam uma impressão profunda, todos nós temos uma "criança furiosa" oculta dentro de nós. Quando o atual parceiro nos frustra, de alguma maneira o bebê furioso pode ser novamente reavivado.

Como o rapto de Perséfone para o submundo, num relacionamento muito intenso descemos às profundezas do nosso ser para descobrir nossa primordial herança instintiva: a inveja, a avareza, o ciúme, a raiva, paixões desenfreadas, a necessidade de ter poder e controle, bem como as fantasias destrutivas que se ocultam sob a mais gentil fachada. Somente reconhecendo e aceitando "a besta" que existe em nós é que poderemos transformá-la. É impossível mudar algo do qual não temos consciência. Não podemos transformar algo que condenamos. O lado mais sombrio de nossa natureza precisa ser trazido à luz para que possamos purificá-lo, regenerá-lo ou fazê-lo renascer.

Ao negar este nosso lado mais sombrio, podemos ter acumulado enorme quantidade de energia psíquica. No entanto, o fato de reconhecer nossa ânsia de vingança, nossa crueldade ou nossa raiva não quer dizer necessariamente uma catarse ou um -pôr para fora" estas emoções indiscriminadamente. Um comportamento desse tipo consome a energia e possivelmente destrói mais do que desejamos. Talvez a chave esteja em "possuir" e conseguir conter estes sentimentos explosivos. Através de uma nova ligação à fonte de energia que se exprime como instintos violentos, e se conseguirmos contê-los dentro de nós, talvez possamos liberar esta energia da maneira como ela vem sendo emanada. Assim desviada ela pode ser conscientemente reintegrada na psique de modo mais produtivo ou canalizada para saídas construtivas. Ficar remoendo no subconsciente emoções primordiais até que estejam prontas para mudanças não é muito agradável, mas quem foi que disse que a 8ª Casa é simples?

A 8ª Casa nos dá a oportunidade de reexaminar a relação entre as soluções dos relacionamentos atuais e dos problemas havidos com o pai e a mãe na primeira infância. Baseados em nossa percepção do ambiente quando crianças, formamos opiniões a respeito da pessoa que somos e do que a vida "lá fora" é para nós. Tais crenças continuam se desenvolvendo, muitas vezes inconscientemente, mesmo depois de adultos. A menininha que achava que seu pai era um canalha cresce; ela se torna mulher com um sentimento profundamente enraizado de que "todos os homens são canalhas". Segundo as leis do determinismo psíquico, cada um de nós tem uma misteriosa e desconhecida habilidade de atrair para sua vida as pessoas e as situações que reforçam as suposições infantis. Mesmo que este não seja o caso, vamos senti-Ias assim, de qualquer maneira. O objetivo de um complexo é provar que ele é verdadeiro.

Os destroços da infância são escavados na 8ª Casa. Nossas manifestações de vida mais problemáticas e profundas ficam a descoberto, "vivas e palpitantes", nas atuais crises de relacionamento. Com a chegada da maturidade e da sabedoria que os anos vividos nos concedem, podemos "limpar" um pouco do resíduo do passado que coloriu e obscureceu nossa perspectiva de vida, nós mesmos e os outros. A oferta da 8ª Casa é um autoconhecimento, um autodomínio maiores, libertando-nos para continuar nossa jornada renovados, menos atravancados por bagagem desnecessária.

Se por acaso falharmos nas tentativas de absorver e "trabalhar" as voláteis saídas evocadas pela 8ª Casa, então podemos nos referir a estes posicionamentos para entender como será num caso de divórcio. Aspectos planetários difíceis na 8ª Casa advertem para separações traumáticas e divórcios complicados. As duas "crianças furiosas" são deixadas para viver a batalha no tribunal.

Todos os níveis de experiências compartilhadas são descritas pela 8ª Casa. Além de juntar as finanças e unir dois indivíduos num só, esta casa tem uma tendência ecológica mais ampla. Todos precisamos compartilhar nossos planetas e seus recursos. O empresário poderoso, que acaba indiscriminadamente com florestas para seu próprio benefício está desrespeitando os habitantes da floresta, bem como privando os outros seres humanos de uma área de beleza natural e inspiração. A sensitividade de uma pessoa para estes assuntos será mostrada pelos posicionamentos na 8ª Casa.

A 8ª Casa também demonstra nossa relação com o que os filósofos esotéricos chamam de "o plano astral". Uma emoção forte, não necessariamente perceptível vai permear a atmosfera ao nosso redor. O plano astral é aquele nível de existência em que aparentemente intangíveis mas poderosas emoções e sentimentos são recebidos e circulam. Alguém com mente mais racional pode duvidar da credibilidade de algo que não se consegue ver nem medir; no entanto, quase todos já tivemos a sensação, ao entrar na casa de alguém, de ser "tocados" por uma sensação de mal-estar, enquanto na casa de outra pessoa nos sentimos embalados e animados. Os planetas e os signos da 8ª Casa indicam para que tipo de energias pairando no astral somos mais sensíveis. Alguém com Marte na 8ª vai absorver mais facilmente um sentimento de raiva no ar enquanto alguém com Vênus nesta posição logo sente quando há amor em determinado ambiente. Nesta capacidade a 8ª Casa, de água, é análoga às outras casas de água, a 4ª e a 12ª. Experiências na esfera psíquica ou oculta são mostradas na 8ª, bem como o grau de interesse ou fascinação que temos por tudo que é escondido, misterioso ou está subjacente a nível superficial de existência.

A morte, como é mostrada pelos posicionamentos da 8ª Casa, pode ser tomada literalmente como significando a maneira ou as circunstâncias extenuantes da nossa morte física. Saturno nesta posição pode relutar para morrer, receoso do que está além da existência corpórea. Netuno pode morrer por drogas, álcool, envenenamento ou afogamento, ou mesmo ir gradualmente se desengajando num estado comatoso. Urano pode terminar de repente.

No entanto, no transcorrer de uma vida experimentamos muitas formas diferentes de mortes psicológicas. Se estivermos derivando nossa identidade de um relacionamento pessoal e este terminar, estaremos diante da morte de quem temos sido. Da mesma maneira, se adquirirmos nosso sentido de vitalidade ou significado de vida a partir de uma determinada profissão e a perdemos, também morremos pela forma que nos conhecíamos. A infância morre e nasce a adolescência. A adolescência passa e nos tornamos adultos. Um nascimento requer uma morte e uma morte requer um nascimento. Os signos e os planetas na 8ª Casa indicam o modo pelo qual estas fases de transição se apresentam. Pessoas com uma 8ª Casa forte tendem a viver suas vidas como se fosse um livro com diversos capítulos ou então uma longa peça de teatro com várias mudanças de cenário. Estas finalizações e novos começos são lançados sobre nós ou então teremos de assumir um papel mais ativo em derrubar velhas estruturas para dar lugar a outras coisas.

Na mitologia, os deuses criaram o mundo, decidiram que não gostavam dele, destruíram tudo o que haviam construído e criaram um outro. A morte é um processo que não pára na natureza. Há também a imagem do deus morrendo e renascendo, aquele que é destruído de uma forma e reaparece novamente transformado. Cristo é crucificado e ressuscitado. Dioniso é desmembrado, mas Atenas, a deusa da Sabedoria, salva seu coração e ele nasce novamente; como a Fênix, podemos ser temporariamente reduzidos a cinzas, mas somos capazes de nos levantar mais uma vez, renovados. A forma pode ser destruída, mas a essência permanece para aparecer novamente em alguma outra forma. O poeta alemão Goethe escreveu: "Enquanto você não morre e se levanta novamente, você é um estranho para a sombria Terra." Em nível bastante profundo, qualquer sobrevivente dos traumas e das tensões da 8ª Casa, conhece bem isto.

Descendente e a 7ª Casa

A 6ª Casa é a última do que é conhecido como "as casas pessoais", e representa o aprimoramento da personalidade individual através do trabalho, de serviços, de humildade e de atenção à vida de todo dia e ao corpo físico. Usando um microscópio para a vida, a 6ª Casa analisa e categoriza a em diversas partes, dando a cada parte seu lugar certo e sua propriedade. Agora, sabemos exatamente como diferimos dos outros e de tudo o mais. Mas, no fim da 6ª Casa crescemos separados dos outros conforme a vida nos permite, e temos uma nova lição para aprender: que nada existe isoladamente. Quando chegamos ao Descendente, o ponto mais ocidental do mapa, fazemos um ângulo agudo e nos encontramos de novo no ponto em que começamos. Este vai ser o trabalho da 7ª à 12ª casas: reconduzir nos mais uma vez ao sentido perdido de nossa unidade com toda a vida.

O Descendente é a cúspide da 7ª Casa e o ponto oposto ao Ascendente. Tradicionalmente, o Ascendente é considerado o "ponto de autoconsciência" e o Descendente é considerado o "ponto de consciência dos outros". Ele descreve nossos relacionamentos e as qualidades (junto com os planetas da 7ª Casa) que procuramos em nosso companheiro. Michael Meyer em O manual para a astrologia humanística também escreve que o Descendente (e a 7ª Casa) indica que espécie de atividades darão ao indivíduo as experiências "de que ele precisa para entender o significado dos outros".

Do mesmo modo, a 1ª Casa é tradicionalmente conhecida como "a casa do self'. A 7ª Casa, a mais afastada da 1ª, é rotulada como "a casa do não-self". Ela é também conhecida como "a casa do casamento" e curiosamente como "a casa dos inimigos declarados". Entende-se aqui por casamento qualquer relacionamento baseado em compromisso mútuo, contraído legalmente ou não. Na 7ª Casa duas pessoas se unem com um propósito para melhorar a qualidade de suas vidas formando uma família o que tende a lhes propiciar maior segurança e estabilidade e aliviando-os da solidão e do isolamento.

A maioria dos livros de astrologia ensina que os planetas e os signos na 7ª Casa descrevem o parceiro de casamento ou "alguém muito significativo". Isto é verdade até certo ponto. Os posicionamentos da 7ª Casa muitas vezes indicam o tipo de parceiros) pelos quais somos atraídos. Por exemplo, um homem com a Lua na 7ª Casa pode estar procurando uma parceira que reflita as qualidades da Lua: alguém que seja receptivo, complacente e que cuide dele. Uma mulher com Marte na 7ª, será atraída por um parceiro que reflita as qualidades de Marte: alguém dogmático, direto e forte. Ela talvez esteja procurando alguém que tome decisões por ela e lhe diga o que deve fazer.

Se mais de um planeta ou signo se encontram na 7ª Casa (no caso de uma casa interceptada), a saída pode ser muito confusa, pois estamos procurando vários tipos de atributos num parceiro. Por exemplo, uma mulher com Urano e Saturno na 7ª Casa estará procurando alguém que lhe ofereça estabilidade e segurança (Saturno) e também ao mesmo tempo precisa de alguém imprevisível, excitante e terrivelmente individualista (Urano). Essas duas posturas raramente se encontram numa mesma pessoa. Ela pode primeiro casar com um saturnino, ficar muito revoltada e chateada, encontrar um uraniano e pedir divórcio. Por outro lado, ela pode ficar casada com o saturnino e ter um caso com o uraniano. Caso ela tenha casado primeiro com um uraniano e se divorciado dele por causa de seu caráter instável e excêntrico, suspira aliviada quando se estabelece em segurança com um saturnino. Ou, então, no caso de ela ser psicologicamente um pouco mais madura, poderá casar-se com um saturnino e encontrar meios que não ameacem seu relacionamento, que satisfaçam sua necessidade de Urano ou, mesmo, que ajudem a desenvolvê-lo mais dentro de si mesma. Por fim, ela pode também casar-se com um uraniano e prover a segurança saturnina por seu próprio esforço dentro de sua relação.

Além de descrever a natureza do parceiro, os signos e os planetas na 7ª Casa sugerem as condições do relacionamento: os arquétipos constelados pela própria união. Saturno nesta posição poderia indicar uma união baseada em deveres e obrigações. Marte na 7ª é mais propenso ao "amor à primeira vista", correr para o casamento, batalhas tempestuosas, reuniões apaixonadas e mais batalhas. Arthur Rimbaud, o poeta francês ferido por seu amante Verlaine, tinha o explosivo Plutão e Urano na 7ª Casa. Rex Harrison, com seis casamentos nas costas, nasceu com o abundante Júpiter nesta posição.

Conforme já mencionamos, um planeta ou signo numa determinada casa sugere a predisposição para encontrar este princípio arquetípico tendo como base o arco de vida em questão. Posicionamentos na 7ª Casa é aquilo que esperamos encontrar em relacionamentos íntimos, e, por esta razão, indica os atributos que mais notamos na outra pessoa. Invariavelmente, algo no mapa de nosso parceiro vai combinar com planetas e signos em nossa 7ª Casa e, na maioria das vezes, o mapa do parceiro reflete misteriosamente a nossa 7ª Casa. Por exemplo, uma mulher que tem Marte, Saturno e Plutão na 7ª Casa pode muito bem encontrar um marido que tenha Marte, Saturno e Plutão na lª, ou algo como um Sol em Áries (refletindo seu Marte na 7ª Casa), uma Lua em Escorpião (refletindo seu Plutão na 7ª Casa) e três planetas em Capricórnio (refletindo seu Saturno na 7ª Casa).

O mecanismo de projeção psicológica tem de ser tencionado novamente com relação ao Descendente e à 7ª Casa. Em Relating, Liz Greene sugere que o Descendente e os planetas de 7ª Casa representam qualidades que "pertencem ao indivíduo mas são inconscientes" e que tentamos vivenciar "através de um companheiro ou através dos tipos de experiências que o relacionamento nos traz". Vamos ver o que ela quer dizer com isso.

O Descendente - o ponto mais ocidental de nosso mapa - desaparece de vista quando nascemos. Neste sentido, ele descreve aquilo que está escondido dentro de nós, aquilo que sentimos não nos pertencer porque não podemos ou não queremos vê-lo em nós mesmos. Diametralmente opostos ao Ascendente e à lª Casa, o Descendente e a 7ª Casa revelam qualidades em nós mesmos que temos a maior dificuldade em "possuir", ser responsável por e aceitar. No entanto, como Jung mostrou bem, "quando uma situação interior não é tornada consciente ela acontece exteriormente, como destino". Se somos inconscientes de algo em nós mesmos, "o mundo tem de agir à força sobre o conflito e rompê-lo em duas partes opostas". Explicando melhor, aquilo que não percebemos dentro de nós mesmos, invariavelmente atraímos para nós através dos outros. Tradicionalmente, o Descendente e a 7ª Casa são descritos como aquelas qualidades que procuramos num parceiro, mas, em nível mais profundo, eles representam aquelas qualidades ocultas em nós que precisamos conscientemente integrar ao nosso conhecimento para nos tornarmos inteiros. Liz Greene chama a isso de "o companheiro interior". Se suprimirmos esses atributos em nós mesmos porque os achamos desagradáveis ou inaceitáveis, então não será surpresa o fato de não gostarmos deles quando eles nos forem refletidos de volta através de outra pessoa. Eis aí a conotação da 7ª Casa como sendo da alçada dos inimigos declarados.

No entanto, nós também tendemos a inibir ou a "repudiar" características potencialmente positivas, e estes podem ser atributos que nos agradam e excitam quando os encontramos nos outros. Apaixonamo-nos por pessoas que exibem abertamente tais características, pois elas nos fazem sentir mais completos. Colocamos essas qualidades em nossas vidas, casando-nos com elas. Idealizando, o parceiro pode servir como uma espécie de modelo para essas energias que eventualmente nos permitirão integrá-las conscientemente de volta à nossa própria natureza. Muitas vezes ficamos até confiantes demais no outro para nos suprir com elas. Nos polarizamos com nosso parceiro e ficamos só meia pessoa.

É preciso esclarecer que projeção não é algo puramente patológico. Uma imagem projetada é um esconderijo em potencial dentro do self. Quando existe a necessidade de que essa imagem seja conhecida, o primeiro passo é percebê-la em outra pessoa. Aí, então, esperamos compreender que ela tem algo a ver conosco e, conscientemente, a tomamos para nós. Por exemplo, uma mulher com Marte na 7ª Casa pode não estar em contato com seu próprio poder e dogmatismo; por isso procura essas qualidades num homem. Encontra um parceiro com um Marte forte, dominante e autocentrado, e que lhe dá ordens. Através dele, ela consegue trazer o Marte para a sua vida. No entanto, quando ela não agüenta mais o parceiro deste jeito, é possível que se julgue na condição de poder dar ordens também; assim, começa a dar ordens a ele, a tomar atitudes por conta própria. Desta maneira, descobre Marte em sua própria natureza.

Uma vez que tenhamos reintegrado, até certo ponto, as qualidades da 7ª Casa em nossa própria identidade, podemos expor amplamente estes princípios à sociedade. Por isso, uma pessoa com Marte na 7ª Casa tende a ser alguém que estimula os outros à ação. Alguém com Saturno nesta posição poderia funcionar como professor ou mentor de outros. Muitas pessoas dedicadas a ajudar ao próximo têm forte ênfase na 7ª Casa. Elas requerem uma renovação quase contínua de fluxo entre elas e os outros. É mais aconselhável encarar uma 7ª Casa lotada desta maneira, aliviando, uma parceria com uma só pessoa, do enorme peso que muitos planetas têm nesta posição.

As seis divisões abaixo do horizonte também aparecem na 7ª Casa. Hábitos sociais se manifestam como efeito contrário ao excesso de individualidade, assegurando um pouco de lealdade e de justiça no comportamento dos membros da sociedade. Estas leis tendem a ser transgredidas, exigindo então a intervenção de uma força exterior para restabelecer o equilíbrio. A forma pela qual passamos por casos desse tipo aparece indicada pelos posicionamentos da 7ª Casa.

A 7ª Casa, naturalmente associada com Libra e Vênus, é o campo no qual aprendemos a cooperar com os outros. Isso cria um dilema com a 1ª Casa: quanto eu coopero (7ª Casa) versus quanto eu me afirmo por mim (lª Casa)? Por um lado, há o perigo de se dar e se misturar demais, sacrificando-se a própria identidade. Por outro, poderíamos estar pedindo que os outros se adaptem em demasia a nós privando-os de suas próprias individualidades. O problema foi expresso pelo Rabbi Hillel: "Se eu não sou por mim, quem vai ser? E, se eu sou só por mim, o que sou eu'? A 7ª Casa nos incumbe da tarefa de encontrar outra pessoa e de equilibrar os dois extremos da balança.

6ª Casa

O principal problema com a 5ª Casa é sua tendência a "ultrapassar os limites". Costumamos esbanjar auto expressão, mas não sabemos quando parar. Na 5ª Casa não acreditamos mais que somos tudo, mas ainda achamos que podemos ser ou fazer qualquer coisa. A 6ª Casa segue-se à 5ª e nos lembra nossos limites naturais e a necessidade de uma melhor autodefinição. Como a filosofia Zen, a 6ª Casa nos pede que respeitemos e reconquistemos a "perfeição de nossa natureza original", que nos tornemos o que somos por nós mesmos (nem mais nem menos), e que vivamos isso em nossas vidas de cada dia. Nossa verdadeira vocação é sermos nós mesmos.

A 6ª Casa aponta o dedo para a 5ª e recrimina:

Muito bem, é maravilhoso expressar nossa veia criativa mas será que você realmente o fez com inteligência? O quadro que está pintando ainda não está bom e você já se mostra esgotado, sem dormir, duas noites trabalhando nele.

ou

Claro, você está tendo um romance estonteante, mas já examinou se ele é válido como relacionamento a longo prazo - não, mencionando que você não suporta a loção-após-barba que ele usa?

ou

Parabéns, agora você ganhou um bebê. Programe-se e mantenha o horário do bebê rigorosamente, e não se esqueça de ter bastante fraldas de reserva.

ou

Lembra-se da festa da última semana em que você mandou ver? Quando olha para trás, não acha que ofendeu aquele tímido rapaz que estava num canto e que não teve nenhuma chance de dizer um "a" s6 porque você monopolizou a conversa?

Chegou a hora de tirarmos de dentro de nós, de discriminar nossas prioridades, de avaliar o uso que estamos fazendo de nosso poder e de nossas capacidades, e, acima de tudo, de reconhecer os limites e a verdade de nossa própria natureza e humanidade.

Tente quanto for possível, uma semente de pêra nunca vai se tornar uma macieira. Nem deveria, se acreditamos, como Kierkegaard, que "querer ser o que o nosso eu realmente é significa, na verdade, o oposto de desespero". A 6ª Casa mostra como devemos ficar em nosso plano e como florescer naquilo que devemos vir a ser. Fazer isso faz com que nos sintamos certos e bem. Mas as conseqüências por não respeitarmos as verdades de nossa própria natureza são o stress, a frustração e o mal-estar - mensageiros que nos avisam de que algo está errado e precisa ser reexaminado.

Realidade tem ambos, o "dentro" e o "fora". A 6ª Casa explora o relacionamento entre o que somos dentro de nós e aquilo que nos rodeia - a correlação entre o mundo interior de mente, sentimentos e o mundo exterior da forma e do corpo. O rótulo da tradicional 6ª Casa diz "saúde, trabalho, serviço e ajustes à necessidade", e tudo provém da conexão corpo-mente.

Um fato básico da existência é que a vida tem de ser vivida dentro de limites. Não importa o quanto nos julgamos divinos e maravilhosos, assim mesmo precisamos comer, escovar os dentes, pagar contas e aturar as necessidades do dia-a-dia, uma realidade mundana. Além disso, cada um de nós tem um corpo particular, uma mente particular e alguma finalidade particular a preencher. De certo modo, fomos "designados" para servir a um certo propósito ou função específica dentro de nossa maneira e natureza individual. Ninguém preenche melhor este propósito do que nós mesmos. Servimos melhor sendo quem somos. Através dos ajustes necessários e dos refinamentos da 6ª Casa nos tornamos aquilo que podemos ser sozinhos.

Alguém disse certa vez que "o trabalho é o aluguel que pagamos pela vida". Para muitos de nós, trabalho é algo que temos de fazer para poder agüentar o dia-a-dia. Um emprego diário também implica em rotina e ajustes. Precisamos chegar mais ou menos no horário e não podemos ser tão livres e espontâneos como gostaríamos com nossas vidas quando sabemos que o despertador está programado para focar às 7 da manhã seguinte. Temos de estruturar nosso tempo, estabelecer prioridades e deixar coisas de lado. De certo modo, a necessidade de seguir um esquema rígido ajuda a organizar e a padronizar a vida. Escapamos da ansiedade existencial que a liberdade de escolha pode provocar: temos um emprego e sabemos onde precisamos estar.

Utopicamente, no entanto, a força do trabalho compõe-se de indivíduos diferentes, cada um desenvolvendo a habilidade pessoal que melhor lhe cabe. O resultado final é um produto perfeitamente acabado ou a própria continuidade de funcionamento da sociedade. Planetas e signos na 6ª Casa descrevem eventos relacionados a trabalho e emprego e sugerem as tarefas para as quais temos melhor potencial. Os posicionamentos nesta casa podem revelar a natureza de nossos serviços - Júpiter ou Sagitário poderia ser um agente de viagens, a Lua ou Câncer olhar crianças e Netuno ou Peixes servir chopps no bar da esquina. Mas, muito mais do que descrever o tipo de emprego, os posicionamentos aqui sugerem o modo como encaramos (ou deveríamos encarar) o trabalho - não só o que fazemos, mas como fazemos. Quem tem Saturno ou Capricórnio nesta posição, pode preferir um emprego estável com um trabalho claramente definido ao qual possa se dedicar calma e constantemente, enquanto os que têm Urano e Aquário nesta casa normalmente odeiam obedecer a horários e preferem trabalhar sem um chefe à vigiá-los.

O modo de se relacionar com colegas de trabalho também é mostrado pelos posicionamentos da 6ª Casa. Vênus ou Libra nesta posição pode apaixonar-se por alguém com quem trabalha, enquanto Plutão ou Escorpião provoca intrigas e encontros complicados. A 6ª Casa quadra naturalmente com a 3ª (veja pg. 112) e assuntos não-resolvidos, relações de infância podem aparecer com colegas de trabalho.

Através de situações de emprego, nos vemos envolvidos em relacionamentos de desigualdade. Trinta pessoas podem estar trabalhando sob as nossas ordens, e nós podemos estar subordinados a outras trinta. Como agimos com nossa autoridade e como nos portamos numa posição mais subserviente é mostrado pela 6ª Casa. Trata-se de uma espécie de ensaio para o relacionamento de igualdade que vamos fazer na 7ª Casa.

A 6ª Casa também descreve nosso relacionamento com a mecânica que faz funcionar nosso carro, nosso médico e sua recepcionista, o leiteiro enfim qualquer pessoa que nos sirva de alguma maneira. Inversamente, nossas qualidades como "servidores" e nossos mais profundos sentimentos, além das atitudes que tomamos com relação a serviços, são mostrados nesta posição. Isso deve ser tomado a sério pois muita gente acredita em humildade e trabalho como o máximo do empenho humano - e o caminho para Deus e para mais iluminados estados de graça.

A maneira como usamos nosso tempo e o tipo de atmosfera que precisamos para operar com felicidade em nossa vida diária é mostrado pela 6ª Casa. Signos e planetas nesta casa colorem as energias que trazemos (ou deveríamos trazer) para nossas tarefas diárias e como encaramos os rituais da existência mundana. Marte na 6ª pode varrer a casa como um tornado, enquanto Netuno ainda está tentando se lembrar onde deixou o pano de pó.

Animaizinhos novos, que nos rodeiam em nossa vida diária, também são mostrados pela 6ª Casa. Pode parecer uma consideração sem importância, no entanto, um grande número de pessoas é profundamente afetado por suas experiências de cuidar de animais. Cachorrinhos podem ser o "nó" de uma série de projeções, e para algumas pessoas sua relação com o próprio cachorro ou gato é tão importante quanto a com um ser humano qualquer. Em certos casos, cachorros e gatos aliviam o que sem eles seria um insuportável sentimento de solidão ou de inutilidade. A perda ou a morte de um animal de estimação pode desencadear uma série de saídas psicológicas e filosóficas.

Existe uma relação óbvia entre trabalho e saúde - outra grande preocupação da 6ª Casa. Apesar da dominante ética de trabalho parecer rigorosa e talvez abusiva na cultura ocidental, temos de considerar que a necessidade de ser produtivo e útil é, de certa maneira, intrínseca à natureza humana. Trabalho em demasia afeta a saúde enquanto pouco trabalho nos deixa indiferentes e letárgicos. Ele não só nos priva de uma fonte de renda mas também de um sentido de valor e propósito. Estudos mostram que o número de doenças relatadas aumenta nas áreas em que cresce o desemprego. Inversamente, algumas pessoas usam a doença como um escape do emprego que odeiam ou que não as satisfaz.

O interesse da 6ª Casa por habilidade manual, perfeição e capacidade técnica também se refere ao campo da saúde como trabalho. Afinal, o corpo é um mecanismo de alta precisão em que as diversas células trabalham para o bem de um organismo maior. Cada célula é um ser em si, porém cada uma é parte de um sistema maior. Cada célula "tem de fazer seu dever" mas também tem de se submeter às necessidades do todo maior. Numa pessoa sadia (como numa sociedade sadia) cada componente afirma-se em si e também trabalha em harmonia com os outros componentes. A 6ª Casa pede que mantenhamos nossas diversas partes - isto é, a mente, o corpo e os sentimentos - numa relação de trabalho harmoniosa.

Muitas pessoas com posicionamentos na 6ª Casa estão muito interessadas em saúde e idoneidade, algumas até em grau obsessivo. Em casos extremos, dietas especiais e técnicas para manter um perfeito funcionamento do corpo dominam e estruturam de tal maneira a vida que sobra pouco tempo para fazer qualquer outra coisa. No entanto, muitos excelentes doutores têm ênfase na 6ª Casa, e ela pode ser associada com a medicina tradicional bem como com carreiras em homeopatia, osteopatia, naturalismo, massagens etc.

Já mencionamos que o corpo, a mente e as emoções operam como um todo. Aquilo que pensamos e sentimos afeta o corpo. Inversamente, o estado do corpo influencia a forma como pensamos e sentimos. Psique (mente) e soma (corpo) estão irremediavelmente atados. Desequilíbrios fisiológicos ou químicos dão origem a problemas psicológicos enquanto perturbações emocionais e mentais podem manifestar-se através de sintomas físicos. A 6ª Casa tende a revelar algo sobre o significado psicológico oculto de certa doença. Saturno poderia indicar uma rigidez em encarar a vida de todos os dias, bem como a tendência à artrite. Marte na 6ª corre para a vida, trabalha até não poder mais s6 para mais tarde ser diagnosticado com pressão alta. No entanto, seria simplificar demais referir-se à 6ª Casa apenas com relação à saúde. O livro The American Book of Nutrition and Medical Astrology, escrito por Eileen Naumann (publicado por Astro Computing Services, San Diego, Califórnia), examina a astrologia médica profundamente e é muito recomendado.

Através dos procedimentos da 6ª Casa nos refinamos, aperfeiçoamos e purificamos, tornando-nos um melhor canal para sermos quem somos. Poderíamos ser o mais inspirado dos artistas (5ª Casa) porém a menos que aprendamos a utilizar bem as ferramentas (6ª Casa) - o uso correto de pincéis, tintas e paletas - não seremos capazes de concretizar ou compreender nossas possibilidades. Foi dito que "a técnica é a liberação da imaginação". Esta é a verdadeira senha para a 6ª Casa.

Embarcamos na vida inconscientes da nossa individualidade e, no fim da 6ª Casa, temos um sentido bem mais definido de nossa identidade particular e de nosso objetivo. Como a 3ª Casa, a 6ª faz uso da atividade do lado esquerdo do cérebro, reduzindo as coisas a partes. O problema com a 6ª Casa é que acabamos colocando o mundo em termos de o que sou eu e o que não sou eu. Quando nos caracterizamos com estas feições que nos distinguem dos outros - nosso peso, nossa altura, nossa cor de pele, nosso emprego, nosso carro, nossa casa - ficamos com a sensação de que existe uma absoluta distinção entre aquilo que somos e quem são os outros. Enquanto o propósito das primeiras seis casas é o de nos tornarmos completamente cientes de nós mesmos como indivíduos distintos, resta para as últimas seis casas (da 7ª à 12ª) reunir-nos com os outros. De outra maneira, a vida seria terrivelmente solitária.