Na realidade nada melhor que uma mãe para conhecer a diferença entre o relato mágico que envolve seu filho e a dor da existência, com suas provações e sacrifícios. Passar do esforço cotidiano à ternura que cria o mundo perfeito que necessita o bebê, é a arte da mãe. Ela sabe desta diferença: quando é necessário ocultá-lo e quando fazê-la presente.
Só quem deseja permanecer eternamente na infância deseja viver no estado inicial do vínculo, absolutizando um só aspecto da mãe. Não quer interar-se de seu rosto tenso pelo esforço, nem de suas limitações e dores, ou da energia que ela coloca em seus desejos que não tenham o filho como objetivo central. A Lua no signo de Peixes nos obriga a recorrer à todas as articulações do arquétipo lunar e, sobre tudo, aprender a soltar suas mais profundas fantasias.
Dissemos que quem nasce no instante desta Lua tem a possibilidade de transmitir toda a sabedoria da função lunar, mas para fazê-lo deverá recorrer previamente o caminho do que se tem registrado no inconsciente da humanidade. Deverá conhecer como nada é padrão de resposta coletiva a função da Lua no sistema, com seus erros e pontos de inércia ou estancamento.
Como vimos desde o princípio, a absorção da consciência em um objetivo único absolutiza sua importância e rompe a constelação natural na qual esta aparece. Esta fragmentação impede a percepção holística e força uma circulação de destino no qual os desejos conscientes não podem ver-se satisfeitos; aqui o sofrimento é o complemento obrigatório da ignorância em que assumiu a fascinação pelo objeto.
Assim como a substância indiferenciada da Lua - no plano biológico - leva em si a lei de sua forma, que progressivamente se manifestará até ser definitivamente concretizada, a sabedoria da mãe inclui a presença do pai desde o princípio. Nesta não existe o círculo mãe-filho, e permite desenvolvimento pleno das possibilidades da criança.
No imaginário da humanidade, no contato, é possível excluir o pai e sonhar com um vínculo absoluto sem limite, discriminação ou lei, que não necessita abrir-se jamais nem articular-se com a diversidade do mundo.
Este sonho coletivo é o núcleo do mecanismo lunar pisciano. Nos casos anteriores vimos como se configurava um imaginário - diferente para cada Lua - ligado a absolutização das experiências infantis. A dificuldade arquetípica para deixar atrás a fantasia do absoluto lunar aparecia assim em relação a uma corrente particular zodiacal, com sua matriz específica. Em Peixes, no contato, se condensa o imaginário coletivo acerca da Lua em si mesma.
Se o talento da Lua em Peixes consiste em manifestar a sabedoria mais profunda da função materna, isto implica na necessidade de singularizar a experiência arquetípica, transformando-a em atributo de um indivíduo diferenciado. Seu mecanismo, no contato, leva a perder-se nessa corrente coletiva, renunciando a toda a capacidade de elaboração para permanecer no erro da mãe desde o lugar do filho. Isto é, deste ângulo materno, eternizando o momento de absorção plena das necessidades do filho.
No geral, as pessoas com a Lua em Peixes tem uma capacidade superior aos demais para compreende as necessidades do que acaba de nascer e daquilo que não pode bastar a si mesmo, em qualquer dos reinos da natureza. Suas dificuldades começam quando esta energia se irradia sobre aquilo que já não está nesses estágios.
A fixação com o embelezamento do momento inicial da criança provoca uma natural repugnância a presença do limite, a incompreensão e a desilusão, implícito em todo o crescimento.
É evidente que para uma sensibilidade destas características, abrir-se ao fato que gera dor, a frustração e a morte formam parte essencial da vida e que nada pode estar, além disso, exige um grande esforço. Mas é fundamental compreender que se trata de uma dificuldade psicológica; em seu nível essencial, a Lua em Peixes tem a capacidade de conter todos os passos da criatividade da vida, sem exclusões.
Na realidade toda vez que uma pessoa com a Lua em Peixes se refugia em sua sensibilidade interior - que por certo é limitada porque excluiu o lado duro da vida - constatará que o destino a leva a lugares onde se verá forçada a compreendê-las. Por mais que se esconda na ingenuidade, buscando reconstruir o mundo perfeito para si e para os outros, terá que enfrentar o sofrimento, a desilusão, os efeitos do poder ou da violência. Os caminhos até esses lugares dependerão do conjunto da matriz energética, mas constituem um itinerário inevitável para consumar as experiências da Lua, como requer o signo de Peixes.
O dom fundamental desta Lua é o de entregar a cada ser vivente, segundo suas necessidades, a amplitude de uma sensibilidade amorosa que não exclua e que ao mesmo tempo proteja sabiamente. Mas para isso é necessário desenvolver uma verdadeira maestria sobre a Lua. E ainda que todos os elementos estejam a sua disposição, também enfrenta com grande possibilidade de cair no erro da exclusão e da fragmentação. Maestria sobre a função lunar quer dizer, na realidade, maestria entre a Lua, Saturno e o Sol.
Ao fechar o ciclo das Luas, Peixes nos leva novamente ao princípio, isto é, a evidência de que onde se encontram as maiores possibilidades, ali deve enfrentar a maior dificuldade. Nenhuma função é absoluta, só a correta articulação das mesmas permite que floresça a síntese criativa de cada estrutura. Isto é válido para cada Lua e, em particular, para a que carrega todos os seus significados.
Assim como a existência concreta das pessoas com a Lua em Aquário, com todo o seu sofrimento e dificuldade, podemos esperar a inspiração que renova as emoções humanas até uma maior liberdade, do trabalho das outras Luas em Peixes pode-se esperar uma nova sensibilidade sobre todo o vivente, para toda a humanidade.
Criar ambientes que renovem nossas pautas de relação e a concepção, gravidez, parto e criança de nossos filhos, o cuidado e proteção das espécies, uma maior sensibilidade sobre a função do ser humano em relação aos outros reinos da natureza. E, enfim, inúmeras atividades que levem até o conjunto da vida uma ternura e uma inteligência amorosa, infinitamente sutil e necessária são algumas das manifestações que podemos esperar da Lua em Peixes.
Chegado este ponto, podemos antever como a Lua possui distintos significados, de acordo com a integração no sistema que a consciência possa ter desenvolvido em cada caso.
Ao longo do texto temos posto nossa atenção aos mecanismos lunares a fim de compreender com maior detalhe possível as dificuldades iniciais, que todos temos para sintetizar a qualidade da Lua. Mas isso não esgota em absoluto seus significados. Como vimos, na medida em que se desenvolve a personalidade integrada afloram as talentos de cada Lua, e sua temerosa sensibilidade se transforma em uma profunda capacidade afetiva.
Mas quando começa a expressar-se no nível sintético de si - mesmo vincular - o núcleo integrado da mandala natal - a Lua se manifesta como uma substância que entregamos aos demais, como fonte de nutrição e proteção. A origem desta qualidade atravessa a memória das espécies, para encontrar-se na mesma fonte da vida com a peculiar criatividade do receptivo.
Desprendendo-nos da análise no nível psicológico e inclusive pessoal, podemos observar como cada Lua cria ambientes de acordo com sua energia, para que os demais se habituam e se nutram dela. Com o que é destilado de uma qualidade profunda na qual a pessoa “conhece” intimamente segredos, possibilidades e limitações, a energia da própria Lua fica a disposição dos que necessitam. Ou, poderíamos dizer o contato profundo do núcleo da mandala natal com a Lua do sistema solar lhe permite manifestar-se com toda a sua potência e sua capacidade de nutrição, através da qualidade específica dessa Lua de nascimento.
Só de modo indicativo, podemos dizer que a Lua em Áries exteriorizará ambientes e modalidades através dos quais a pessoa que os necessitem possam iniciar novos processos, atuar livre e dinamicamente ou descobrir sua própria iniciativa: as Luas em Touro gerariam substância para que os outros possam apoiar-se e criar com ela uma base sólida e tangível, as Luas em Gêmeos poderiam brindar a substância do conhecimento e proteger com a palavra aqueles que necessitam ascender regiões inexploradas pela consciência, e assim, em cada caso.
Ao redor de cada Lua está sintetizado uma rede de consciências atraídas por essa substância essencial e protetora.
Neste nível de desenvolvimento a substância da Lua deixa de ser um ambiente protetor e nutritivo para que se produza uma síntese em nível pessoal. Agora passa a ser um elemento integrado a criatividade de quem participa de uma rede vincular mais ampla, cuja finalidade específica é a de satisfazer as necessidades mais profundas de seus membros.