Talentos da Lua em Peixes

Na realidade nada melhor que uma mãe para conhecer a diferença entre o relato mágico que envolve seu filho e a dor da existência, com suas provações e sacrifícios. Passar do esforço cotidiano à ternura que cria o mundo perfeito que necessita o bebê, é a arte da mãe. Ela sabe desta diferença: quando é necessário ocultá-lo e quando fazê-la presente.

Só quem deseja permanecer eternamente na infância deseja viver no estado inicial do vínculo, absolutizando um só aspecto da mãe. Não quer interar-se de seu rosto tenso pelo esforço, nem de suas limitações e dores, ou da energia que ela coloca em seus desejos que não tenham o filho como objetivo central. A Lua no signo de Peixes nos obriga a recorrer à todas as articulações do arquétipo lunar e, sobre tudo, aprender a soltar suas mais profundas fantasias.

Dissemos que quem nasce no instante desta Lua tem a possibilidade de transmitir toda a sabedoria da função lunar, mas para fazê-lo deverá recorrer previamente o caminho do que se tem registrado no inconsciente da humanidade. Deverá conhecer como nada é padrão de resposta coletiva a função da Lua no sistema, com seus erros e pontos de inércia ou estancamento.

Como vimos desde o princípio, a absorção da consciência em um objetivo único absolutiza sua importância e rompe a constelação natural na qual esta aparece. Esta fragmentação impede a percepção holística e força uma circulação de destino no qual os desejos conscientes não podem ver-se satisfeitos; aqui o sofrimento é o complemento obrigatório da ignorância em que assumiu a fascinação pelo objeto.
Assim como a substância indiferenciada da Lua - no plano biológico - leva em si a lei de sua forma, que progressivamente se manifestará até ser definitivamente concretizada, a sabedoria da mãe inclui a presença do pai desde o princípio. Nesta não existe o círculo mãe-filho, e permite desenvolvimento pleno das possibilidades da criança.

No imaginário da humanidade, no contato, é possível excluir o pai e sonhar com um vínculo absoluto sem limite, discriminação ou lei, que não necessita abrir-se jamais nem articular-se com a diversidade do mundo.

Este sonho coletivo é o núcleo do mecanismo lunar pisciano. Nos casos anteriores vimos como se configurava um imaginário - diferente para cada Lua - ligado a absolutização das experiências infantis. A dificuldade arquetípica para deixar atrás a fantasia do absoluto lunar aparecia assim em relação a uma corrente particular zodiacal, com sua matriz específica. Em Peixes, no contato, se condensa o imaginário coletivo acerca da Lua em si mesma.

Se o talento da Lua em Peixes consiste em manifestar a sabedoria mais profunda da função materna, isto implica na necessidade de singularizar a experiência arquetípica, transformando-a em atributo de um indivíduo diferenciado. Seu mecanismo, no contato, leva a perder-se nessa corrente coletiva, renunciando a toda a capacidade de elaboração para permanecer no erro da mãe desde o lugar do filho. Isto é, deste ângulo materno, eternizando o momento de absorção plena das necessidades do filho.

No geral, as pessoas com a Lua em Peixes tem uma capacidade superior aos demais para compreende as necessidades do que acaba de nascer e daquilo que não pode bastar a si mesmo, em qualquer dos reinos da natureza. Suas dificuldades começam quando esta energia se irradia sobre aquilo que já não está nesses estágios.

A fixação com o embelezamento do momento inicial da criança provoca uma natural repugnância a presença do limite, a incompreensão e a desilusão, implícito em todo o crescimento.

É evidente que para uma sensibilidade destas características, abrir-se ao fato que gera dor, a frustração e a morte formam parte essencial da vida e que nada pode estar, além disso, exige um grande esforço. Mas é fundamental compreender que se trata de uma dificuldade psicológica; em seu nível essencial, a Lua em Peixes tem a capacidade de conter todos os passos da criatividade da vida, sem exclusões.

Na realidade toda vez que uma pessoa com a Lua em Peixes se refugia em sua sensibilidade interior - que por certo é limitada porque excluiu o lado duro da vida - constatará que o destino a leva a lugares onde se verá forçada a compreendê-las. Por mais que se esconda na ingenuidade, buscando reconstruir o mundo perfeito para si e para os outros, terá que enfrentar o sofrimento, a desilusão, os efeitos do poder ou da violência. Os caminhos até esses lugares dependerão do conjunto da matriz energética, mas constituem um itinerário inevitável para consumar as experiências da Lua, como requer o signo de Peixes.

O dom fundamental desta Lua é o de entregar a cada ser vivente, segundo suas necessidades, a amplitude de uma sensibilidade amorosa que não exclua e que ao mesmo tempo proteja sabiamente. Mas para isso é necessário desenvolver uma verdadeira maestria sobre a Lua. E ainda que todos os elementos estejam a sua disposição, também enfrenta com grande possibilidade de cair no erro da exclusão e da fragmentação. Maestria sobre a função lunar quer dizer, na realidade, maestria entre a Lua, Saturno e o Sol.

Ao fechar o ciclo das Luas, Peixes nos leva novamente ao princípio, isto é, a evidência de que onde se encontram as maiores possibilidades, ali deve enfrentar a maior dificuldade. Nenhuma função é absoluta, só a correta articulação das mesmas permite que floresça a síntese criativa de cada estrutura. Isto é válido para cada Lua e, em particular, para a que carrega todos os seus significados.

Assim como a existência concreta das pessoas com a Lua em Aquário, com todo o seu sofrimento e dificuldade, podemos esperar a inspiração que renova as emoções humanas até uma maior liberdade, do trabalho das outras Luas em Peixes pode-se esperar uma nova sensibilidade sobre todo o vivente, para toda a humanidade.

Criar ambientes que renovem nossas pautas de relação e a concepção, gravidez, parto e criança de nossos filhos, o cuidado e proteção das espécies, uma maior sensibilidade sobre a função do ser humano em relação aos outros reinos da natureza. E, enfim, inúmeras atividades que levem até o conjunto da vida uma ternura e uma inteligência amorosa, infinitamente sutil e necessária são algumas das manifestações que podemos esperar da Lua em Peixes.

Chegado este ponto, podemos antever como a Lua possui distintos significados, de acordo com a integração no sistema que a consciência possa ter desenvolvido em cada caso.

Ao longo do texto temos posto nossa atenção aos mecanismos lunares a fim de compreender com maior detalhe possível as dificuldades iniciais, que todos temos para sintetizar a qualidade da Lua. Mas isso não esgota em absoluto seus significados. Como vimos, na medida em que se desenvolve a personalidade integrada afloram as talentos de cada Lua, e sua temerosa sensibilidade se transforma em uma profunda capacidade afetiva.

Mas quando começa a expressar-se no nível sintético de si - mesmo vincular - o núcleo integrado da mandala natal - a Lua se manifesta como uma substância que entregamos aos demais, como fonte de nutrição e proteção. A origem desta qualidade atravessa a memória das espécies, para encontrar-se na mesma fonte da vida com a peculiar criatividade do receptivo.

Desprendendo-nos da análise no nível psicológico e inclusive pessoal, podemos observar como cada Lua cria ambientes de acordo com sua energia, para que os demais se habituam e se nutram dela. Com o que é destilado de uma qualidade profunda na qual a pessoa “conhece” intimamente segredos, possibilidades e limitações, a energia da própria Lua fica a disposição dos que necessitam. Ou, poderíamos dizer o contato profundo do núcleo da mandala natal com a Lua do sistema solar lhe permite manifestar-se com toda a sua potência e sua capacidade de nutrição, através da qualidade específica dessa Lua de nascimento.

Só de modo indicativo, podemos dizer que a Lua em Áries exteriorizará ambientes e modalidades através dos quais a pessoa que os necessitem possam iniciar novos processos, atuar livre e dinamicamente ou descobrir sua própria iniciativa: as Luas em Touro gerariam substância para que os outros possam apoiar-se e criar com ela uma base sólida e tangível, as Luas em Gêmeos poderiam brindar a substância do conhecimento e proteger com a palavra aqueles que necessitam ascender regiões inexploradas pela consciência, e assim, em cada caso.

Ao redor de cada Lua está sintetizado uma rede de consciências atraídas por essa substância essencial e protetora.

Neste nível de desenvolvimento a substância da Lua deixa de ser um ambiente protetor e nutritivo para que se produza uma síntese em nível pessoal. Agora passa a ser um elemento integrado a criatividade de quem participa de uma rede vincular mais ampla, cuja finalidade específica é a de satisfazer as necessidades mais profundas de seus membros.

Diferentes níveis da Lua em Peixes.

A ambivalência fundamental desta Lua reside na indefinição confusa entre o arquétipo da Mãe Universal e a posição de filho eterno. Toda uma série de padrões de destino pode manifestar-se a partir desse mundo inconsciente. O risco de esclarecer em demasia e, por conseguinte não poder dar conta de todas as matizes que estão em jogo, poderiam definir diferentes níveis desta estrutura.

1 - O encantamento passivo do filho no seio da mãe; aqui a pessoa buscará ambientes ou pessoas que a contenham, para escapar das dificuldades do mundo.

2 - O fortíssimo componente de entrega e sabedoria maternal os leva a proteger e cuidar dos seres desvalidos e necessitados, ou quem se sentir atraído pela energia das pessoas com a Lua em Peixes e busquem naturalmente sua proteção.

3 - Este segundo nível pode não ser totalmente consciente e a pessoa, em conseqüência, não canaliza criativamente o talento e toda a sensibilidade através de atividades que tenham como propósito criar e proteger. Neste caso, o excesso de energia maternal invade todos os vínculos, que são a única via de expressão desse enorme caudal de energia. Aqui a ambivalência entre o desejo de ser protegido de todos os males e o querer proteger os outros, é máximo. A pessoa pode buscar ambas coisas em uma mesma situação, com resultados pouco felizes.

4 - Quando a qualidade maternal é plenamente assumida, estas pessoas cuidam e protegem muito além dos vínculos cotidianos. Trabalhar com crianças, mulheres grávidas, animais ou plantas, comprometer-se fortemente com a ecologia tanto em seus níveis teóricos como práticos, cuidar de enfermos, velhos, etc., podem ser atividades habituais. Poderíamos incluir muito mais, através das quais estas pessoas entregam sua energia para criar ambientes protetores e nutritivos para outros.

Neste nível a energia materna não invade com tanta força os vínculos pessoais como no anterior. Ainda o seguirá fazendo porque o núcleo central do mecanismo continua existindo: se identificou com o lado “mãe” do arquétipo, no ponto em que ela está absorvida no filho, querendo permanecer com ele, eternamente, neste estado. Aqui a energia materna cuida e protege mas inconscientemente inibe - ou pelo menos retarda - o crescimento daqueles sobre os quais se volta.

5 - O passo seguinte é a discriminação profunda entre a sabedoria protetora da mãe e o encantamento do filho. Aqui surgem os milhares talentos desta Lua, que cumpre plenamente sua função para os demais. Ao mesmo tempo, a pessoa se singularizou no oceano de fantasias e proteções inconscientes associadas. Seus efeitos já não invadem a vida pessoal que, de todas as maneiras, girará em torno de uma enorme capacidade de afeto e sensibilidade.

Vejamos agora como se apresentam as dificuldades do mecanismo lunar no plano dos vínculos, sem fazer particulares distinções nos diferentes níveis.

O traço mais comum, derivado da simbiose materna, é entrar em situações onde se constitua as mães dos outros e, ao mesmo tempo, o filho ou filha. É dizer, em contentar e ser contentado ao mesmo tempo. Para simplificar, não vamos especificar como isso ocorre nos homens posto que, a estrutura não se manifesta da mesma maneira, a modalidade protetora - tanto para homens como mulheres - sempre apresenta traços basicamente maternais.

Enquanto o mecanismo se impõe à consciência, esta modalidade pode determinar as eleições de parentes. A profunda ambivalência e a capacidade de proteger quem mais necessita, chega a um ponto máximo nessas situações. A pessoa com a Lua em Peixes pode ser tremendamente sensível as necessidades dos outros, de resto, a potência de sua energia deseja que até as pessoas mais sólidas e organizadas se estendam diante delas, mostrando suas carências e vulnerabilidades. Agora bem, o momento em que a Lua em Peixes toma contato com o nível desvalido de outra pessoa é invadida por uma onda de sentimentos tão tensa que possivelmente, não possa distingui-las da paixão. Automaticamente se forma um arco de atração entre as duas pessoas, em que se produz um fortíssimo desejo de entrega para satisfazer - e ver satisfeita - suas carências mais básicas.

Assim, a Lua em Peixes que se ligava a uma mãe ou pai se encontrará subitamente apaixonada de um filho (a). Todo vínculo amoroso vai atravessar por essa sombra Edípica, mas neste caso se ativará o nível mais básico da mesma, tornando muito difícil o sair do mecanismo lunar, uma vez que a estrutura se constituir. O principal afeto desta articulação é o aninhamento. Invadida pelo arquétipo, a pessoa não compreende que todo o seu comportamento leva a despotencialização do outro, que se entrega beaticamente a essa super-proteção, mas que, ao mesmo tempo, se refugia em um vínculo que ativa seu lado mais infantil e, muitas vezes também, seu desejo inconsciente de esconder-se do mundo. A pessoa com a Lua em Peixes encontrará em quase todo o ser humano o desejo de estar com a “mãe universal”, por isso, a energia que é portadora potencializa esses aspectos nos outros, em níveis insuspeitáveis.

Isso leva a experiências como a constituição de uma maravilhosa família centrada nos filhos, com a total desaparição da sexualidade no vínculo dos parentes. Ou tremendas frustrações diante do incompreensível aninhamento e a súbita dependência do outro, que se fica sem trabalho, adoece ou decide abandonar todas as suas atividades para dedicar-se a escrever poesias, atividades que raramente passam de sonhos. Ou a surpresa do abandono por parte do outro, a quem uma vez cumprida a tarefa reparadora da simbiose, se retira em busca de um “parente mais maduro”.

Não é nada fácil para a Lua em Peixes, nestes casos, compreender o que ocorreu realmente. Para conseguir teria que penetrar nos labirintos de seu mecanismo, rompendo dolorosamente a veia de ilusão que o protegia.

Só assim poderia compreender a si mesma e os comportamentos vinculares que sua energia desencadeia. Ao mesmo tempo, o desequilíbrio inicial até ao lado da mãe faz com que muitas pessoas com essa Lua arrastem uma busca - muito complexa e cheia de ambivalências - da figura do pai. Isto também será um obstáculo no encontro homem - mulher, se não for elaborado.

Enquanto perdure sua inconsciente valorização do maternal e o universo, a pessoa dispõe só disto para vincular-se: ser filho ou mãe. Como se na vida só existissem essas funções e não houvera lugar para adultos independentes.

Será por isso que muitas mulheres com essa Lua não se animam a ser mães biológicas?

É algo muito comum na Lua em Peixes ou na casa XII. Na realidade esta energia está destinada a ser mãe de todos, não de poucos. Se tanta energia maternal fica circunscrita aos filhos biológicos é muito provável que se constitua um mundo familiar extremamente simbiótico, onde resulte difícil crescer e chegar a ser plenamente adulto. Muitas mulheres com essa Lua temem inconscientemente a experiência da maternidade, porque antevêem que desencadeariam um processo que - pelo menos em sua fantasia - às excederia. De resto, a experiência do parto e a maternidade é uma intensidade comovedora para essas pessoas. Uma vez aberto esse canal, podem despertar um desejo quase sem freios de ter mais filhos, netos, cachorros, gatinhos... que as leva, às vezes a adotar - no sentido literal ou figurativo - os filhos dos outros como se fossem seus. Nesta situação a pessoa poderá experimentar a potência da absorção na maternidade, própria de sua energia, e a maneira como se gera esse campo absoluto que estava presente no início de sua vida. Com uma natural diferença de intensidade, isso acontece também com os homens com a Lua em Peixes.

Esta absorção no filho está imediatamente ligada a um desejo devorador, como na Lua em Escorpião. Ainda que as palavras não possam expressar corretamente, não podemos dizer que está em jogo um desejo de fusão e sim, a profunda satisfação de participar da manifestação da vida e seu mistério criador. Ou seja, algo que está além de todo o desejo pessoal. Se as sensações que isto provoca não chegam a consciência em um nível de elaboração que permita integrar estes contentamentos a totalidade da personalidade e expressá-los de forma criativa, é provável que as imagens inconscientes se imponham, com seus efeitos não desejados. Estes não são sempre dolorosos já que a pessoa pode entregar-se como objeto das correntes arquetípicas, aceitando os custos que está posição cobra. Mas, sem dúvida, inibirão outras possibilidades latentes no resto da carta, empobrecendo inclusive os melhores dons da Lua em Peixes.

Quando o mecanismo se polariza.


No geral, quanto mais distância interna exista entre as funções duras do sistema - sobre tudo Saturno ou Plutão - o “mundo perfeito” da Lua em Peixes, mais fácil aparecerá a melancolia como refúgio poeticamente sofredora diante do implacável mundo. Em muitos casos, especialmente entre os homens, este traço de dissolução permanece inconsciente e eles parecem totalmente indiferentes ao mesmo, a posição infantil está articulando sutilmente a personalidade masculina.

Quem se encontra rigidamente organizado para satisfazer a um superior exigente é a mesma criança que vimos na posição anterior, quem agora deve obedecer a uma forte função paterna do sistema, que não o autoriza a dissolver-se na mãe. Com a necessidade de metas, ocupações e desejos, a pessoa põe um “botão” no seu desejo de dissolução. É provável a perda de personalidade no excesso do trabalho ou pelas características do mesmo, cumprindo com os desejos dos outros e deprimindo-se cada vez que suas metas sejam frustradas. Cedo ou tarde, a criança esgotada pela tortura de seu superior buscará dissolver-se na energia feminina para regressar a seu mundo ideal, inclusive através do fracasso de sua carreira ou a enfermidade. O ilusão de uma mulher que satisfaça todas as suas necessidades - e da qual, em seu inconsciente, não deseja ser mais do que uma criança - é muito forte nessa posição.

Assim é como estas pessoas, ainda adultas, podem ter comportamentos muito infantis. A impossibilidade neste nível de tolerar a coexistência da enorme sensibilidade e fantasia lunar com fortes energias marcianas, saturninas ou plutonianas, podem gerar dois mundos. Por um lado, um de muitas exigências e responsabilidade, pelo outro, ambientes onde reina a hipersensibilidade e a necessidade de cuidado. Como dissemos, esta dualidade muitas vezes arrasta estas pessoas a melancolia e inclusive a depressão. Em casos extremos, as leva até a aderir à substâncias que produzam as mesmas sensações não autorizadas conscientemente, sobre tudo nos momentos ou períodos em que sobe ao máximo a tensão entre o lado que exige amadurecimento e o lado regressivo.

Um caso muito notável de Lua em Peixes é Michael Jackson, capturado pelo arquétipo da indefinição e buscando refúgio em um mundo de imagens e presenças infantis cuja ambivalência chega até os extremos. Outro caso é Maradona quem - mais além da potência de seu Sol na casa XII - encontra evidentemente refúgio perdendo sua personalidade em correntes de emoções coletivas. Nestas cenas atuam como um nenê caprichoso que quer sentir-se seguro e protegido por todos, de um modo quase insaciável. E quando sua absorção no desejo coletivo chega ao intolerável a única forma de proteção é a simbiose com seus filhos e sua família, como último refúgio.

A indefinição

Na Lua em Peixes, a dificuldade para dissociar-se da energia materna vai muito além das necessidades de aproximação física típico da Lua em Touro, ou de sua presença afetiva, como em Câncer e ainda da marca de fusão da Lua em Escorpião. Aqui se trata de perder-se, de diferenciar-se por completo de um estado em que não existem distinções. Trata-se de não ser.

O adulto com essa Lua - quando o mecanismo está ativo - põe em jogo um nível de si mesmo completamente simbiótico com o mundo emocional da mãe. O complexo é aqui, que todos os temores e desejos que se apoderam do filho, quem inadvertidamente os toma como propriedade. Pode descobrir que muitas coisas que deseja ou teme, são coisas que sua mãe também havia desejado ou temido, mas que jamais havia manifestado explicitamente. Por exemplo, pode ter sentido desde pequeno terror diante de situações de provas, mas recém vinte anos depois descobre que sua mãe - quando jovem - havia renunciado em prosseguir com os estudos, precisamente por essa dificuldade. Outra possibilidade é que, com a filha a ponto e casar-se, escutou sua mãe dizer: “estou tão contente! Se casou exatamente com o homem que eu queria! Claro que nunca disse nada, não queria invadi-la...”. Sem dúvida, esta mãe colocou um desejo inconsciente muito forte, que não expressa de modo direto e não invade de maneira clara e nítida, o que permitiria a seu filho ou filha - eventualmente - defender-se dele como poderia fazer uma Lua em Áries ou até uma Lua em Escorpião. Aqui se trata de algo tão imperceptível, tão sutil, que a criança segue crescendo “comodamente” dentro desse líquido amniótico estendido. Por isso, se trata de uma questão difícil de rastrear. Se houvesse esclarecimento com respeito “ao que mamãe disse ou pensou”, teria existido mais estrutura ou mais limite no vínculo.

A influência sutil desta identificação inconsciente - que às vezes se mascara sob a forma de uma rejeição consciente - e se tornar independente de uma pauta emocional tão complexa. Por ser a simbiose absoluta a matriz de segurança, mais importante ainda que a discriminação posterior com as emoções maternas é compreender que o mais certo é perder-se em uma sensação de total indiferença.

As situações imprecisas nas quais é possível encenar sem ver-se obrigado a definir e que encerram infinitas possibilidades atualizáveis pela imaginação, são tremendamente desejadas para o mecanismo. A pessoa não sabe bem porque se encontra nessa situação e de um plano consciente afirma querer sabê-lo, mas no fundo ilude todo o esclarecimento. São pessoas à quem as palavras doem porque estas definem, colocam limites, e o mecanismo rejeita as definições e os limites. Na realidade não é uma dificuldade o desejo, como poderia ocorrer em certas estruturas librianas ou nos contatos Marte - Netuno. Aqui se trata de permanecer em uma totalidade, em uma virtualidade gasosa que pode provocar a sensação de ter-se liberado dela. Mas o herói que liberta a bela adormecida ou o resgate da prisão, do labirinto, forma parte deste mesmo sonho.

Muitas vezes é difícil para os demais compreender os módulos de uma Lua em Peixes em determinadas situações. Não é fácil suspeitar que só se movem naquela direção que permitem sonhar mais e melhor, sorteando quase que sonambulamente os esforços dos outros - e inclusive as exigências de seu próprio nível consciente - para chegar a uma definição.

A vida, cedo ou tarde, produz definições que podemos supor que raramente são as que deseja uma Lua em Peixes. É possível que reconstitua com velocidade outro campo de encantamento; de qualquer maneira, se o golpe é muito forte, se fechará em si mesma até perder a melancolia e a depressão.

Este é quem sabe, um dos pontos que mais ocorrem no mecanismo porque - como a dissolução está ligada ao estado de máxima segurança - deprimir-se ou ficar melancólico são formas de sentir-se protegido.

Associações afetivizadas, mecanismos

A chave do mecanismo é a negativa inconsciente a discriminar dentro da sensibilidade. Isto se mascara com um conflito externo no qual se busca a hegemonia de um ou outro aspecto: lógica vs. Sensibilidade, realidade vs. Magia, subjetividade vs. Objetividade, trabalho vs. Poesia... Qualquer dos termos pode “ganhar” e muitas vezes uma Lua em Peixes oscila toda a vida nesta dualidade, através de diferentes níveis. Mas em todo o caso se conserva a absolutização da sensibilidade lunar, que se nega a ser examinada e verificada em um diálogo com as outras funções. No estado primário da Lua em Peixes, não se trata de um adulto que recusa a capacidade e o sentido de registros diferentes, e sim de uma criança assustada a quem o adulto severo pretende convencer racionalmente de que as fadas não existem. Compreender como se guarda uma criança mágica, que se nega sistematicamente a atravessar as desilusões do crescimento, é aqui o primeiro passo. Como sempre, isso não dependerá de um ato da vontade. O destino mesmo - ou a circulação da energia que procura a síntese - cria situações que possibilitem elucidar o mecanismo, sem negar as qualidades lunares. Mas nada garante que essas experiências não repitam o circuito infantil e reforcem o ato de refúgio.

A presença da proteção mágica é o refúgio, porque satisfaz o infantil de uma realidade autônoma a respeito das vicissitudes do mundo concreto. Daí que “o lago encantado” se faça inacessível as funções racionais. Esse mundo cheio de imagens e sensações está além das palavras e a verificação, envolvidos pela mãe, não necessitam falar. Sua sabedoria infinita se expressa pelo contato, através dos sonhos e dos milagres, com as mensagens da sincronicidade, com o registro da inacreditável pureza da vida, que nenhum fato “objetivo” pode manchar.

Grande parte dessa informação é provavelmente válida mas também confusa. O mecanismo da Lua em Peixes tem por traço característico negar o acesso a esse ambiente, por parte das funções arquetípicas “masculinas” do limite e da discriminação porque, se entrarem, romperiam o encantamento. O mecanismo não consiste em utilizar criativamente os dons dessa sensibilidade, e sim procurar que esse mundo encantado permaneça intocável às desilusões da vida.

Isto provoca habitualmente uma forte introversão, que impede os demais acessar os mundos internos e as emoções mais profundas da pessoa com essa Lua. Ela acentua assim a dificuldade real de sua verbalização permanecendo no ambiente da comunicação simbiótica, que é a matriz de segurança. Estabelecer vínculos sem essa magia a obrigaria a confiar em funções trabalhosas, não precisamente milagrosas. Tanto com os outros como consigo mesma este funcionamento a leva, inevitavelmente, a confusão e idealização. E sobre tudo, o hábito de iludir sistematicamente as ocasiões esclarecedores de situações em que se tenha projetado esse mundo infantil.

É pouco provável que a Lua em Peixes queira falar de seus verdadeiros problemas, particularmente os homens, que ocultam seu mundo de fantasias mostrando uma máscara dura, fechada e silenciosa que muitas vezes confunde.

Dificilmente se entregam, ou esclarecem as dificuldades de suas vidas e suas perturbações internas porque “esclarecer” - isto é, levar a ordem à este mar de sensações imaginárias - é experimentado como um sacrilégio que rompe a totalidade da vida perfeita na “mãe universal”. É muito difícil, por tanto, enfrentar o mecanismo desta Lua, porque a pessoa sente que destruirá algo de estranha pureza e raramente está disposto a fazê-lo.

“Protegemos a criança da dor e sofrimento”: esta é a voz das mães, maravilhosamente certas quando à criança real se refere. Mas no ambiente do mecanismo, a pessoa não adverte que atrás essa imagem de sabedoria maternal se oculta a criança eterna.

Começa a constituir-se o circuito.

Durante sua infância, a criança com a Lua em Peixes se sentirá cobiçado dentro de uma réplica deste útero maravilhoso. Envolvido por essa bolha mágica jamais se sentirá abandonado, ainda que às vezes pareça solitário e absorvido em suas emoções. Sua enorme sensibilidade o coloca em contato com todo tipo de captação sutil em relação aos lugares, as plantas, os animais, as pedras ou a paisagem. A sua vez, a conexão com a linha materna do inconsciente o permite viver em um mar de estímulos quentes, protetores e nutritivos. Entregando-se as suas emoções, visões e percepções - nas quais é possível discernir entre os contatos reais que sua enorme sensibilidade lhe permite, e sua fantasia - se acostuma ao fato de não ser necessário realizar esta distinção. A biatude deste mundo sem diferenciações é um refúgio seguro e atraente. É possível que outras estruturas da carta, e inclusive aspectos ou oposições por casa da mesma Lua, tragam uma história infantil com perturbações e conflitos, mas a presença desse campo protetor neutralizará todo o sofrimento. Um olhar racional quem sabe diga que estas crianças fogem à realidade através de um mundo fantástico. É certo que o mecanismo desta Lua está ligada a evasão, em sua origem há uma enorme sensibilidade real. Existe um contato pródigo com o vivente e com níveis emocionais individuais e coletivos, assim como um mundo de enorme riqueza onde a diferença entre o captado e o imaginariamente construído é impossível de se estabelecer. Mais ainda, como dissemos, para uma criança em crescimento não é necessário estabelecê-la. Uma coisa é a evasão e outra, muito diferente, é a renúncia a discriminação. Distinguir as construções da fantasia, do que é realmente percebido por uma sensibilidade pouco comum, é o ponto central de compreensão desta Lua.

O contraste entre a dureza do mundo e esse emaranhado de sensibilidade e fantasia será a grande dificuldade a resolver, tanto na infância como mais tarde na vida. O mundo sempre é muito duro se o que está em absoluto é o abraço protetor da mãe universal. A presença da dor, o limite, a violência e inclusive a morte são incompatíveis com esse ambiente ocupado pelos infinitos diálogos com os quais a mãe protege seu filho da crueldade do mundo.

Ali, junto a percepção sutil, estão vigentes todas as imagens e sensações com as que se vem suprindo as necessidades infantis. Nesse universo de prodigiosa fantasia resulta em inumerosa histórias em que “tudo termina bem”, para consolo e felicidade de quem ainda não está preparado para enfrentar o mundo. O sentido profundo da Lua em Peixes é dar a uma pessoa o acesso à essas acumulações de sabedoria maternal, para utilizá-la com os seres que a necessitam. Claro que isso é muito diferente de permanecer passivo nela, constituindo-se no objetivo único dessa ternura maravilhosa. Mas se essa possibilidade existe, não se pode culpar as crianças que nascem com essa Lua quando se refugiam nessas sensações cada vez que o lado duro da vida ameaça sua segurança.

Em sua capacidade para entrar no refúgio desta caverna encantada de infinitas cores - onde existe um lago extremamente calmo - se forma o mecanismo desta Lua. Não é fácil renunciá-lo para aceitar os limites do mundo dos adultos. Menos ainda, seja possível tanta sensibilidade e uma verdadeira devoção pelo aspecto maternal do universo.

Integrar toda essa sensibilidade em uma personalidade madura implica encontrar o limite da absolutização do maternal. Ao mesmo tempo, deseja aprender a confiar em um mundo complexo e articulado no qual a mãe universal é só um aspecto mais, entre muitos outros. Diante de semelhante tarefa, é evidente que o resultado mais sensato é reter essa capacidade de dissociação que lhes permitir recorrer a seus refúgios eternos, onde é possível proteger-se - e proteger os demais - de todo o perigo e dificuldade.

Como dissemos em capítulos anteriores, as pessoas com a Lua em signos de água tendem a construir em seu interior um espaço inacessível. O mundo encantado da Lua em Peixes será impenetrável não só aos estranhos, mas também para os aspectos racionais e discriminativos da própria pessoa. Construiu-se uma zona de embelezamento na qual se desfruta da imensa sabedoria das mães que, como vimos para a Lua em Câncer - é sempre uma zona não verbal. A “mãe” adivinha, comunica além da unilateralidade das palavras.

Por isso suas mensagens são completas, como nenhuma outra experiência na vida. Tentar acalmar essas sensações e ressonâncias, discernir entre o que provém da sabedoria inconsciente ou da sensibilidade, e aquilo que nasce da fantasia e o infantil, é quase um sacrilégio ou, pelo menos, um trabalho excessivamente custoso. Em uma pessoa com a Lua em Peixes pode ser enorme a tensão que existe entre as funções conscientes e discriminativas, e esse mundo milagroso de características mágicas. Geralmente, a tensão se manifesta através da projeção em outras pessoas, que passam a encarnar o lado racional e crítico ou o lado infantil que sonha viver na “terra de nunca jamais”. Seja como for, se trata essencialmente de um diálogo interno em que podem ser consumida muita energia.

A “mãe” da Lua em Peixes.


De um ponto de vista psicológico - as coisas são muito mais complexas. A extrema sensibilidade faz com que a energia lunar, própria desta posição, possa capturar a consciência na absolutização de sua qualidade, inibindo por muito tempo o amadurecimento do conjunto do sistema.

A criança que nasce através desta energia se sente envolvido em uma qualidade maternal onipresente, que vai muito além do vínculo com sua mãe real. Através dela toma contato com a energia de todas as mães que a precederam e se sente cobiçado por uma ternura e um cuidado infinito, dentro do qual não é necessário realizar nenhum esforço para sobreviver: tudo lhe é dado e é possível. Dentro deste confinamento deste “mundo das mães” em que sua psique habita não existem a violência, nem a luta, nem a escassez. Tudo é suavidade e cuidado e se dispõe do tempo necessário para crescer sem apreensões nem restrições. As vozes das mães contam ao redor da cama os relatos sobre as mágicas possibilidades com as quais a vida satisfaz prodigiosamente os desejos de seu filho é o arrulho que com ele dorme todas as noites.

Não é fácil neste caso, determinar um cenário externo que reflita as características afetivas da qualidade lunar da criança. O meio “objetivo” não apresenta aqui as constantes que temos visto em outros. O limite entre o “externo” e o “interno” se dissolve realmente e o que configura a psique da criança não são as modalidades manifestadas no contorno familiar - que podem variar muito uma da outra - e sim correntes inconscientes.

Em outros termos, poderíamos dizer que sua matriz afetiva está configurada pelo arquétipo da “mãe universal”. Esta imensa sensibilidade sobre a vida, que traz a energia da Lua em Peixes, faz com que o psiquismo da criança se nutra e responda de modo não usual com o mundo interno de sua mãe, o qual está fortemente ligado a cadeia de mães de sua estirpe.

A constante mais visível, no contorno familiar correspondente a esta Lua, é o vínculo muito estreito com o inconsciente de sua mãe. Quem sabe a pessoa não recorde de um excessivo contato emocional nem corporal com ela, mas em sua memória inconsciente habita uma “imensa mãe doadora”, cujo primeiro rosto é o de sua mãe real.

Em geral, a pessoa com esta Lua nasceu em uma família de fortes figuras femininas e a mãe concreta pode ser, em um nível, o extremo final de um mundo de infinitas avós, bisavós e tias, que constituem o verdadeiro e protetor personagem materno. Mais profundamente ainda, incalculáveis formas femininas aparecem em seus sonhos, com rostos mais antigos e universais de proteção e maternidade.

Se observarmos com atenção, se verá que a mãe não conseguiu cortar o cordão umbilical que a unia a sua mãe e avós. E como ela, o filho ou filha também não conseguirá cortá-lo. Um laço que une gerações de mulheres e mães está ativo no inconsciente da criança e através da dele correm as mensagens da “mãe universal”.

De outro ponto de vista, poderíamos dizer que a sensação da Lua em Peixes se corresponde com a de um feto flutuando no líquido amniótico. Ali em um estado praticamente indiferenciado com o meio que o envolve, todas as suas necessidades são satisfeitas. Algo o prove sem esforço e não é preciso experimentar tensão alguma. É essa absoluta relação que permite infinitas sensações e vivencias, está tudo. É um mundo perfeito.

Lua em Peixes

Peixes se encontra além das palavras. Sua energia nos enfrenta muito além de outras com a dificuldade central na aprendizagem de astrologia: como focar de forma inteligível a capacitação de totalidades e ressonâncias que adotam múltiplos significados nos planos concretos, mas que são intuídos com uma grande quantidade em outros níveis.

Em peixes a energia termina num ciclo e se prepara para a seguinte. As formas são agora meras condensações de um contínuo de matizes vibratórias. No oceano de sensibilidade cada ponto ressoa com os demais, em um ritmo que ultrapassa a totalidade e está novamente em tudo, na ordem que melhor satisfaça as necessidades do conjunto.

A sensibilidade é a característica central neste espaço zodiacal. Isto implica em uma entrega que deixa sem sentido a sensação de autodefesa. Em Peixes o “todo”- com sua amorosa inteligência - vela pela segurança de suas diferenças, que não necessitam perder energia em constituir barreiras nem limites de contenção para proteger-se. A qualidade pisciana dissolve toda a estrutura, para deixar em liberdade a energia capturada nas tensões e permitir assim uma máxima capacidade de resposta as necessidades globais. De um ponto de vista seqüencial, cada elemento deverá esgotar as experiências não terminadas - aquelas para as quais ainda não tenha alcançado a correta sensibilidade - a fim de que o ciclo seja consumado e se libere a energia que dará origem ao próximo.

Esta maravilhosa pauta provoca grandes problemas para a organização psíquica do ser humano, naturalmente necessitado de limites e auto-sustentação. Para qualquer pessoa com fortes influências piscianas em sua mandala de nascimento, se fará difícil construir uma estrutura psíquica diferenciada e estável.

Descrever as complexidades do processo de organização psíquica dos sistemas de energias piscianas excede os limites deste texto, mas devemos tê-las presentes no que podemos dizer à respeito da Lua em Peixes.

No espaço anterior - Aquário - vimos como, na medida em que alcançamos os últimos signos do zodíaco, se agiganta a distância entre aquilo que propõe a energia e as possibilidades que temos hoje, os humanos, de torná-la possível.

A Lua em Aquário nos mostrou a etapa na qual já não é necessária nenhuma proteção fechada para poder experimentar a segurança. Nela, o próprio céu é o lugar e aqueles que nascem no instante da Lua aquariana deixam, para todos os outros, a possibilidade de renovar pautas ancestrais da afetividade humana. No signo seguinte, a Lua já não parece nos dizer como construir um refúgio, nem sequer nos propõe confiar no que está aberto. Só se entrega a onipresente inteligência compassiva da totalidade, para focalizar seus atributos à serviço daqueles a quem lhe deve proteção e cuidado.

Nascer com a Lua em Peixes significa ser um veículo para a proteção dos seres que necessitam. Ser portador de uma máxima sabedoria sobre a vulnerabilidade da vida em sua origem, de seus mecanismos e de como satisfazê-los. O contato profundo com a qualidade de proteção universal do vivente é um atributo desta Lua, fazê-lo presente para os demais é seu talento. A proteção pessoal surgirá naturalmente no mesmo cuidado de tudo aquilo que necessita.

Talentos de uma Lua em Aquário.


Uma vez que o trabalho de amadurecimento se instalou, a pessoa com esta Lua começa a expressar seu talento. Este consiste em uma enorme espontaneidade, e uma grande liberdade nos vínculos e uma forte criatividade para encontrar formas contentadoras que não fixem nada em atos preestabelecidos. Também lhes é dado o talento de uma impessoalidade unida a uma alta conexão emocional, isto é, a capacidade de ter um olhar muito intuitivo e compreensivo que, por exemplo, se torna maravilhoso para um terapeuta. A Lua em Aquário tem a capacidade de poder decodificar situações muito intensas, de uma distância extraordinária. Comparamos neste sentido, a Lua em Aquário com a Lua em Escorpião, esta última pode tolerar intensidades emocionais que a primeira não pode nem imaginar. De um ponto de vista terapêutico, o talento da Lua em Escorpião consiste em poder introduzir-se “na lama”, e na Lua em Aquário, é sua qualidade “cristalina” que permite acompanhar os outros na dor e o sofrimento sem sentir-se afetada. É dizer, que esta Lua se esconde em um lugar tão impessoal e a uma distância tal, que pode atender o maior dos conflitos e das dores sem ver-se afetada. Neste nível, a distância respectiva da emoção e seu natural questionamento da voracidade, o controle e a dependência - junto com sua experiência com o pânico e da angústia - a permite compreender muitas coisas e decodificá-las de um modo que os outros não conseguiriam. Desta maneira, o “diminutivo emocional” se converteu em esperteza.

Cortes e resistências.

Em minha opinião, o primeiro passo é compreender a estratégia inconsciente que leva a Lua em Aquário a “colocar-se sempre do lado de fora” das situações. Logo, terá que dispor-se em tomar contato com a intensidade temida para ir aumentando o umbral de tolerância. Não é fácil para a pessoa aceitar essa “dieta” de aumento progressivo de intensidade emocional e que se anime a explorar onde se corta o “fusível”, porque possui infinitos recursos emocionais para não submeter-se ao processo. O outro ponto do trabalho é questionar o corte que diz “os desconectados são os outros...”.

Sempre é bom recordar que o campo energético não varia e que só nossas reações ainda é que podem fazê-lo. Ainda que cause angústia escutá-lo, não é possível evitar que apareçam os cortes nessa Lua. O momento mais intenso de uma terapia, como dissemos, o terapeuta pode chamar a pessoa para dizê-la que deve ir viajar... Por isso um terapeuta que trabalhe com pacientes que tenham a Lua em Aquário devem cuidar desse tipo de situação porque sempre se manifestarão novas cenas do campo energético, que darão a oportunidade de confirmar o mecanismo.

O amadurecimento, então, vem passo à passo, a medida que a pessoa descubra que o corte não é uma interrupção definitiva e sim um momento dentro de um processo onde não é necessário acionar o pânico - colocando a máscara de desapego - e sim deixando-o atravessar pela experiência. Desta maneira o resto do sistema, em sua integração, poderá descobrir a resposta mais adequada a situação.

Se a pessoa compreende que sua “válvula emocional” está distorcida pela contração espasmódica inconsciente - e em conseqüência, não tem elasticidade para acompanhar o processo - quem sabe habite em seu interior um espaço de busca e aprendizagem, antes de sucumbir ao corte. Relaxar a inconsciente contração plasmódica do diafragma é algo importantíssimo nesta estrutura. Ao dar significado ao seu imaginário devastadoramente incontido e aprender a dar o tempo necessário para que os processos emocionais se desenvolvam em toda a sua amplitude, poderá compreender também os outros. Advertirá que quem participa de seus vínculos compartilham um jogo em que, alternadamente, enquanto um intensifica o outro interrompe, enquanto um parece frio, distante e imprevisível o outro se mostra apaixonado, etc.

Em geral compreender nossa estrutura não é compreender-nos na solidão de nossa imaginação e sim um jogo de reações com os demais. Este é o cenário onde se manifesta a realidade da carta natal em cada momento da vida, mais além da clareza mental que temos a respeito dela.

Polarizações do mecanismo.

Agora, complicaremos um pouco mais a questão, muitas Luas em Aquário consideram a si mesmas muito afetivas, conectadas e ligadas a um encontro emocional profundo... só que nunca encontram a pessoa indicada... Nos dirão, é claro, que sua desgraça é de conhecer pessoas desconectadas emocionalmente... Neste caso, é evidente que o próprio campo energético possui qualidades de intensa afetividade - se trata, por exemplo, de um Sol em Câncer - mas ocorre que, ao estar incluída no sistema uma Lua em Aquário, cada vez que a consciência da pessoa se instala em um pólo, se garante que o outro encarne o pólo oposto.

Esta equação reflete “fora” a distância interna não resolvida, algo muito diferente de realizar uma má eleição. Neste estado de fragmentação não se pode “eleger” outra coisa. Projetar sobre os outros a própria Lua em Aquário permite iludir-se sobre a real dimensão da dificuldade, levando ao “exterior” a responsabilidade pelo rompimento e a fuga da intensidade. Imaginem um canceriano com a Lua em Aquário colocando à culpa “na louca, fria e desalmada” noiva. Claro que por outro lado, não toleraria uma pessoa conectada com o que, chega a sua vida como “absorvente e perigoso”, o canceriano com a Lua em Aquário tomará provavelmente um avião e se dedicará a enviar-lhe cartas dizendo-lhe, “te adoro”. Outra alternativa é enamorar-se perdidamente por algum ídolo, desta maneira, “eu estou totalmente entregue, mas ela não está nunca...”. Ali encontrou a segurança da carga conhecida: a descontinuidade.


Isto é difícil de compreender para as zonas de alguém que desejam continuidade e permanência. Logicamente, este pulso será ainda mais complexo se a Lua em Aquário participa de uma estrutura com características de fusão, por exemplo, com muita energia escorpiana ou plutaniana.

Em uma terapia, é muito difícil pôr em contato esta pessoa com sua emoção profunda porque, quando está por produzir, se distancia. E no momento em que ela parece se entregar, será o terapeuta quem magicamente se encontra em um imprevisto e deve suspender a sessão. Todo o processo emocional é aqui muito lento e necessita um ritmo de distâncias que permitam, por um lado, significar as experiências infantis, e produzam por um lado, uma aprendizagem na natureza cíclica das emoções.

Teremos em conta que o mecanismo dissociativo desta Lua é muito exitoso porque distribui seus afetos: tem muitos amigos, pertence à vários grupos, todo mundo a quer. O término disso transita todas as situações como se estivesse atrás de um vidro que não permite o contato real com aquilo de que participa.

Estas Luas podem desenvolver a capacidade de ser “querida” como em família, em muitos lugares distintos?

Seguramente, e isso seria o mais autêntico desta Lua, se não fosse um ato de defesa. Seu talento é precisamente, o de reconhecer que há uma rede afetiva aberta e a nossa disposição e que, se todos se abrissem o suficiente encontraríamos afeto em toda parte sem depender jamais de apenas uma fonte. Isto poderá ser muito claro mentalmente, mas na realidade cotidiana a pessoa não atua com espontaneidade e sim com afeto dividido defensivamente. Se não atravessa as marcas históricas e não reconhece o núcleo espasmódico, com seu corte energético em um nível corporal, é muito difícil que o mecanismo não siga se impondo sutilmente.

Será difícil para essa Lua, a maternidade?

No geral, a maternidade ou a paternidade é algo desconcertante para essas pessoas, ainda que a desejem, mas é também uma grande oportunidade para atravessar esse vazio emocional e os medos que a ele estão associados. É provável inclusive, que seja algo que “aconteça” de forma súbita e imprevista e que, mais tarde, sejam levadas a descobrir novas facetas da não continuidade, liberdade e imprevisibilidade afetiva na relação com seus filhos.

O lento trabalho com este mecanismo lunar.


Chegado este ponto, vemos que há uma dupla volta a percorrer no padrão da Lua em Aquário, por um lado é preciso reconhecer e ter contato com a presença dessa angústia acumulada. Mas logo é preciso abandonar a fantasia de que é preferível experimentar o vazio afetivo - com todo o circuito concomitante - antes de integrar-se a esta vincularidade que obrigue a romper essa auto-imagem de excepcionalidade emocional. Isto não é feito por um ato voluntário, que só se retrairia no processo do nível anterior.

Este processo pode unicamente ter lugar através de um contato e uma entrega progressiva e compreensiva, que leve a pessoa a abrir-se realmente com os demais, sem defesas e confiando. Fazendo-o, em definitivo, como disse, o significado profundo da Lua em Aquário e como pede o mecanismo configurado a partir das feridas iniciais.

Tanto na Lua em Capricórnio, como nesta, há uma tendência para o abandono?


Não. Distinguimos claramente a experiência de rejeição e frustração na solidão de Capricórnio, com a impossibilidade de compreender um corte ou uma instabilidade constante. Na Lua aquariana há algo que, pode ser racionalizado como abandono, pertence profundamente a ordem do que não tem referência, de algo que não podemos compreender nem processar. Em Capricórnio há tempo para registrar e por isso sofre, mas aqui a criança não pode elaborar nada e por isso a experiência é dolorosa, ficou sepultada em uma zona ligada ao pânico. Esse mecanismo lunar faz todo possível para esquecer que existiu essa ferida.

É certo que em ambas as Luas está presente a sensação de necessitar pouco afeto, mas enquanto a Lua em Capricórnio tende a sentir-se abandonada ou a registrar que nada quer, a Lua em Aquário nunca sentiu isso. Está rodeada de pessoas que afetivamente a querem, mas a uma distância “conveniente”. Enquanto presente a intensidade afetiva se produz o corte que a leva a uma dimensão impessoal, como se o que lhe ocorre estivesse acontecendo à outra pessoa, como se fosse o analista de suas próprias emoções. Poderemos observar que, em sua possibilidade de dissolução, é capaz de chorar e dizer ao mesmo tempo “estas lágrimas indicam que estou em contato com o que está passando...”. Em geral, isto é o que faz o ar: dividir a energia levando-a ao plano mental, para diluir a carga no nível emocional. As Luas em ar valorizam isso como se fosse uma qualidade, uma demonstração de que se movem em uma realidade “superior”, seja esta racional ou espiritual. É muito difícil para ela aceitar que na realidade, foge do que ainda não compreendem: será o destino, com sua insistência, que a leva uma e outra vez a essas zonas que acreditam ter superado, para que possa produzir-se uma verdadeira síntese e não uma dissociação.

O refúgio do corte e a desconexão.

Pode haver uma forte ingenuidade emocional nestas pessoas que, protegidas por sua desconexão, observam com perplexidade as complicadíssimas emoções dos outros. Diante das situações dolorosas e complexas podem adotar uma atitude de “transparente inocência”, passando através delas como se nada tivesse acontecido. Na realidade se dissociaram e esta habilidade é que lhes protege, com a sensação de que “nada os toca”. Obviamente, ao que menos estão dispostas é tocar aquela angústia e o profundo vazio.

Mas é preciso não confundir essa atitude para dissociar-se, com liberdade e espontaneidade. Nesse sentido, quem sabe a Lua em Aquário seja uma das mais complexas de se viver, porque a enorme dificuldade de elaborar a angústia que inevitavelmente carrega, se somam a afetivação da liberdade e aos múltiplos recursos ideológicos relacionados com a valorização de não pertencer e com a rejeição do que é comum aos demais. O que angustia profundamente em um nível, protege racionalmente em outro. Não duvidaremos que se sentem diferentes e impossibilitados de compartilhar com os outros o que realmente sentem e converteram em um hábito e, como sempre, isto tranqüiliza.

Ainda que sua singularidade e diferenciação seja um fato certo, está mascarando a incapacidade - mais que compreensível - de permanecer nesse vazio uma interação curativa. Enquanto persiste em reações automáticas de sociabilidade, desapego e desenvoltura - “os compromissos são coisas do passado...”, dirá - a pessoa continua encobrindo ideologicamente o pânico do contato e a intensidade.

Enquanto se coloca como “observador objetivo” das emoções alheias, o próprio umbral emocional da Lua em Aquário é realmente baixo. Assim é, quando a emoção se intensifica um pouco, rompe o tênue fusível que o protegia, interrompendo qualquer processo de que esteja participando. O que para uma Lua em Escorpião é apenas uma “brisa”, para Lua em Aquário é um “tornado”.

Diante dessa advertência de perigo, a convicção da pronta interrupção “externa” da corrente afetiva dispara sua angústia e assim, automaticamente, a pessoa se acomoda na distância. Sua conduta se torna impessoal, fria, objetiva; desconectada completamente das emoções: racionaliza com clareza sobre elas, mas seguramente, tomará decisões que não correspondem com suas necessidades. É muito comum, neste sentido, que uma Lua em Aquário sofra arrependimentos tardios, por sua tendência a cortar relacionamentos antes do tempo.

Corta antes de comprometer-se?

Bom, a palavra “compromisso” é quase uma blasfêmia para a Lua em Aquário, um atentado a liberdade individual... Quando se insinua a estabilidade afetiva, imediatamente se produz um movimento inconsciente que o leva a retirar o afeto e, obviamente, com isso termina qualquer vínculo. Aqui vemos a sombra profunda dessa Lua: quem acredita possuir um sistema emocional mais apto para o futuro que para o presente - no meio desta “humanidade de emoções primitivas” - na realidade é quase um diminutivo emocional. Isto pode soar excessivo, mas me parece que todas as promessas criativas desta Lua - para ser real - dependem primeiramente da aceitação da dificuldade e a necessidade de ajuda, neste ponto. Ao ter muito baixa a tolerância emocional, é pouco provável que essa pessoa possa recorrer aos ciclos de qualquer vínculo mais ou menos estreito. Não pode aceitar que toda a realização afetiva tenha altos e baixos, em consequência sente que a carga emocional sobe e baixa além de sua linha de corte, em geral decide que o vínculo terminou ou toma uma distância incompreensível para os demais. Viver um processo completo com seus máximos e mínimos, suas intensidades e retiros, encontros e desencontros, o obrigaria a revisar a distância entre seu pretenso desapego e sua angústia básica. Antes de chegar a este nível de amadurecimento, a Lua em Aquário passa anos de sua vida oscilando entre duas posições: ou toma muita distância desde o começo - de modo que os outros as carreguem na curva do ciclo - ou corta muito antes do necessário, interrompendo inclusive o que não teria de ser cortado.

Para os demais é difícil compreender que o que se mostra desta maneira, na realidade, leva sobre si a carga de um enorme vazio interior e a acumulação de uma angústia não elaborada. É alguém que desconhece seu nível emocional, mas que, inconscientemente “sabe” que o contato real o fará atravessar um espasmo, forçando-o a enxergar a ilusão de sua pretensa liberdade afetiva. Sustentar esta tensão em uma situação vincular concreta é fundamental para que venha à tona todas as feridas, o vazio e as fantasias angustiantes associadas a ele. Só assim, a pessoa se compreenderá e se fará compreender pelos demais.

Mas o sutil é que ser emocionalmente compreensível é estar fora do mecanismo, é poder sentir que realmente compartilha e se encontra em profunda intimidade com os demais. Isto permite, a meu juízo - mais que alguma outra coisa - dissipar o imaginário de excepcionalidade emocional sobre ele que está inconscientemente sustentado pelo qual “meu destino é o vazio”. Para que possa emergir a sensação - não a idéia - de que “meu destino é a liberdade e a espontaneidade”, primeiro deve dissolver a fantasia anterior.

Agrupado mas distante: o “objetivo participante”.


Assim é como uma pessoa com esta Lua recorre a uma postura impessoal. Como vimos, toda a Lua em Ar se dissocia do registro emocional através de uma intimidade socializada e de forte tendência a racionalização. Em Aquário, em particular, é muito forte a sensação de “intimidade compartilhada”. Pode se sentir bem realizando atividades grupais e possuir a capacidade de estabelecer vínculos de companheirismo e compreensão mútua com muitas pessoas. Ao mesmo tempo, prefere instalar-se em uma posição abstrata, onde a onda emocional não o alcance. Protegido por uma disposição mental ampla e inovadora, extremamente compreensiva, onde tudo acaba objetivamente e até de forma natural - ainda que ocorram as maiores desgraças - qualquer coisa pode ser compreendido racionalmente.

A Lua em Aquário não depende das explicações, como o faz a Lua em Gêmeos, mas necessita manter-se emocionalmente além de toda a intensidade pessoal. Imperturbável, porque de outra maneira teria que ter contato com toda a angústia acumulada, sente que observando a distância pode captar a universalidade dos processos. Dessa posição impessoal, mas extremamente aberta e disposta a compartilhar com todos - para diferenciá-lo claramente da impessoalidade capricorniana - se sente desapegada das emoções. Os demais parecem atrapalhados em uma mala pegajosa, debatendo-se na ignorância de sua subjetividade, enquanto que ele se sente uma pessoa com “emoções objetivas”. Por certo, ter emoções objetivas é o ideal do mecanismo da Lua em Aquário, também é diferente aqui da Lua em Capricórnio cujo ideal é diretamente não ter emoções. Aquário está além dessa simplificação, mas deseja transcender todo o apego e intensidade perturbadora e conflitiva. Não podemos duvidar que sua espontaneidade e amplitude guardam verdadeiramente o tesouro de uma profunda renovação dos afetos, em nível de mecanismo a pessoa está absolutamente “mais aquém” do desapego que aparenta. Na realidade é tão forte a presença dessas feridas emocionais infantis que deve permanecer desconectada das mesmas para não naufragar em uma angústia paralisante.

Pensamos que o corte espasmódico ao que foi submetida, pela manifestação da energia que lhe corresponde viver, é muito mais complexa que a frustração e o abandono da Lua em Capricórnio. A angústia é tão grande que impede a dor e elaborá-la; tocar esse vazio absoluto, essa ausência inexplicável - que não tem que ver com a rejeição, ainda que assim se racionalize - é quase intolerável. Há possibilidade que se esconda ali o medo de enlouquecer, se abre essa porta. Não se trata de um núcleo de dor associado ao imaginário que deve ser suportado, nessa desolação não há nada que possa fazer, salvo ficar suspenso espasmodicamente no vazio. Daí que a única resposta possível para fugir desse mecanismo é a convicção de que esse mecanismo não existe.

Começa a constituir-se o circuito.


A cena básica que antecede a todas as anteriores é a de uma mãe que diz: “te quero” e logo “desaparece”, sobre esta cena se vão acumulando experiências no mesmo sentido, até que fica estabelecido um padrão. O bebê primeiramente - e a criança depois - não tem possibilidade de compreender o processo, mas sim de estabelecer uma relação inevitável: quando há afeto este desaparece subitamente. A sensação pautada é que a segurança, o carinho, a proteção, em qualquer momento se interrompem. Aqui não se trata de um padrão de escassez ou frustração, como na Lua em Capricórnio, e sim, a certeza de que esse afeto presente e satisfatório será cortado. Podemos imaginar quanta angústia isso gera em um bebê: cada vez que se entrega a corrente afetiva esta termina sem aviso prévio, deixando-o em um estado que não pode acalmar-se tão facilmente, ainda que pareça outra fonte para ampará-lo.

Depois que este circuito se estabelece, cada vez que surge a emoção, o contato, a intimidade, ao mesmo tempo aparecerá a angústia provocada pela certeza do corte eminente. Inclusive antes que este tenha acontecido, surgirá a ansiedade e a angústia. Assim é como diz o próximo passo: “quando há emoção há angústia”, independente do que vai acontecer realmente. Neste ponto, o acúmulo de experiências - próprias do padrão energético - já produziu um padrão de respostas. Se observarmos com atenção, esta angústia é literalmente espasmódica. Na situação da dilatação - entrega - a criança padece com uma contração súbita - retiro - que logo se fará presente diante de qualquer fato que no futuro implique entrega.

Este andamento pelo qual se produz o corte antes que este se manifeste na realidade, pode ter nessas pessoas correlação corporal num corte energético na altura do diafragma. Habitualmente o corpo não é, neste caso, o encolhimento e a contração tensa da Lua em Capricórnio. Aqui se trata de espasmo, que faz com que a pessoa se dirija a experiência emocional tomando ao mesmo tempo distância dela e repetindo o padrão da “mãe”: está e não está.

Podemos advertir também que a angústia aumentará de intensidade quando mais prolongado ou tenso seja o encontro emocional. As situações de estabilidade afetiva, por um lado entrelaçadas, no fundo prenunciam o vazio eminente e gatilham toda a angústia acumulada. Como temos visto nas outras estruturas lunares, aqui se manifesta um movimento que envolve a pessoa em um duplo vínculo - neste caso na dualidade união/ pânico - pelo qual deve recorrer numa conduta que o libere do ingresso desta zona de tensão insuportável. Estas pessoas, que podem transmitir uma sensação de transparência e desapego e que se mostram tão sociáveis e abertas ao novo, encobrem desta maneira uma criança angustiada, que antecipa toda uma situação emocional tomando distância dela para não voltar a atravessar essa angústia devastadora.

Aqui se constitui o mecanismo lunar: uma forte distância emocional em uma pessoa cheia de vínculos e atividades grupais, nos quais se protege de toda a intensidade, adotando uma atitude aberta, mas impessoal e pronta para retirar-se diante da mínima ameaça.

Teremos então a seqüência da Lua em Aquário e seu mecanismo. A enorme liberdade desta energia toma forma através de vínculos primários tão perturbadores que, para não sucumbir diante dessa “afetividade enlouquecedora”, a criança se retrai diante de toda intensidade emocional, submergindo em uma alta vincularidade que lhe permita manter-se distante e desconectada do contato profundo.

Energia da Lua em Aquário

Esta Lua está dizendo “tua mãe é o céu... é um filho do céu...”, ao mesmo tempo que a criança experimenta a humana necessidade da simbiose e refúgio. A previsível conseqüência psicológica será o hábito de colocar-se além de qualquer situação intensa de modo que nada emocione - ou seja, angustie - demasiadamente.

Associações, afetivações, mecanismos.

Podemos pensar que, na medida em que as sociedades modernas aumentem sua tolerância às diferenças, a vivência desta Lua não afetará tanto a necessidade de simbiose com o meio que ainda nos caracteriza. Entretanto e no geral, podemos ver esta Lua em crianças que foram obrigadas a adaptar-se a uma excessiva diferenciação, o que lhes impediu de entregar-se completamente ao meio para se sentirem incluídos nele: havia algo que os deixava sistematicamente fora do que os demais estavam compartilhando. Diferenças culturais, raciais ou religiosas entre sua família e das outras crianças do bairro, atividades dos pais “inexplicáveis” - do ponto de vista da criança - a hora de responder as perguntas de seus amigos, aparecer no colégio na metade do ano letivo e passar para outro muito diferente antes que termine o ano, são todas experiências quem sabe não tão relevantes como as anteriores, em relação a corte emocional, mas que impedirão a criança de ter a sensação de pertencer a um meio ao qual integra-se completamente.

Podem ter existido muitas mudanças?

Sim, isso é também muito comum. Imaginem essa criança ao que acontece no bairro, cidade, país e o colégio, como irá adaptar-se? Cada vez que se entrega ao mundo se seus companheiros é subitamente arrancado dali. Rapidamente compreende que, cada vez que chega a um lugar, logo deverá ir-se. Estará aberto à novos companheiros? Seguramente conhecerá muitas crianças, chegará a ter amigos muito diferentes entre si, mas é difícil que consiga estreitar o relacionamento com alguém.


Do mesmo modo, ter pais estranhos ou diferentes dos demais por seus ideais, condutas, nacionalidade ou profissão, lhe produzirá uma forte sensação de inadequação, com sua conseguinte angústia. Aquilo que em outro contexto ou em outra idade pode ser vivido como original e criativo, na infância pode provocar uma gangorra devastadora. O importante para nós é perceber como, por distintas vias e com distintas intensidades, se repetirão experiências de descontinuidade e inadequação que, inevitavelmente, haverá de angustiar a criança e cuja acumulação representa o mais difícil de elaborar na Lua em Aquário.

A “mãe” da Lua em Aquário.

Não é fácil imaginar a materialização desta Lua em um contingente que não gere afetos traumáticos para uma criança. A amplitude e liberdade que possui seu campo afetivo, ao manifestar-se “fora” dele em vínculos primários que devem objetivá-la, atenta contra suas necessidades mais básicas e, quase inevitavelmente, deixará marcas muito difíceis de apagar.

De um ponto de vista ideal, poderíamos imaginar esta criança em uma comunidade onde as crianças são filhos de todos e o afeto circula intensamente, mas impessoalmente através de múltiplas “mães” e “pais” que satisfazem suas necessidades sem apegar-se pessoalmente a eles. Esta não pode ser uma comunidade tribal ou um grupo unido pela profunda constatação de seus membros com uma pauta em comum. Mas bem, deveríamos imaginar que cada mãe pertence a uma raça diferente, tem pautas culturais e condutas totalmente distintas e inclusive se dirige ao bebê em um idioma diferente das outras. Esta capacidade de sentir-se seguro e cobiçado naquilo que não se repete é o tesouro da Lua em Aquário, mas é duvidoso que possamos vê-la materializada ao seu redor nestas características. Não sabemos tão pouco se este meio, assim imaginário, é realmente tolerável para um bebê. Quem sabe o seja e nisso consista a promessa da Lua em Aquário, como fonte de novas possibilidades emocionais para a espécie. Mas em termos concretos e atuais, a qualidade de não continuidade e diversificação criativa que esta energia exige para manifestar-se, se materializa em geral por vias muito mais contraditórias e dolorosas.

A pauta que deve fazer-se objetiva, então, é a súbita interrupção de seu sistema emocional, a passagem instantânea da presença à ausência, como na Lua em Capricórnio. No marco do padrão aquariano haverá outra fonte de afeto e calor diferente daquela que se interrompe, imediatamente disponível para suprir as necessidades da criança. O vazio aquariano não significa a solidão e sim, requer que não busque o mesmo que se retirou, é dizer, permanecer aberto a outra modalidade afetiva, a outra distância, a outra intensidade. O pulso diz: “está, não está, há algo diferente, não está mais, há outra coisa”, o qual obriga a deixar para trás as identificações e se integrar a circulação e a novidade.


Na história concreta, a experiência básica pode ser o repentino corte com a segurança emocional: por alguma razão o meio afetivo quente e nutritivo, subitamente quebrou e a criança ficou no vazio. Como alguém que de improviso é privado de oxigênio, a carência do essencial a deixará “suspensa” por um instante e, ainda que isto retorne tão repentinamente como se foi, um espasmo deverá ocorrer inevitavelmente e será a marca de seu inconsciente.

A súbita morte de um dos pais, o inesperado divórcio dos mesmos, algo incompreensível - para a criança - alteração da situação econômica familiar ou da conduta de seus seres mais queridos como depressões, crises nervosas, ausências, ter sido deixada sem maiores explicações ao cuidado dos outros - eventualmente muito carinhosos - porque os pais foram viajar, ou porque a mãe ficou doente e não pode vê-la, estes são alguns dos acontecimentos esperáveis nos primeiros anos de vida.

Mudanças repentinas, um incêndio no lar... São também “causas” que a pessoa recordará como episódios significativos e mais ou menos traumáticos de sua infância. Mas, ainda que ela logo situe um desses fatos específicos como o desencadeador do padrão emocional, com segurança houve infinitamente muitos estímulos de menor envergadura - na mesma direção - rondando ciclicamente a marca básica.

O contexto habitual para esta Lua é o de uma instabilidade recorrente do meio afetivo através de fortes crises ou de alguma presença perturbadora que sublinha os acontecimentos cotidianos. Aqui, o fator mais importante pode ser o comportamento irregular da mãe. Esta, ou quem ocupe o lugar dela, é de alguma maneira imprevisível para a criança. O significado da Lua em Aquário - de um ponto de vista canceriano - poderia ser definido como “minha mãe está louca”. A “mãe” desorienta absolutamente o bebê, que deverá realizar um tremendo esforço de adaptação. Muitas vezes a mãe sofre de transtornos mentais ou padece de problemas nervosos. Seja por causas específicas ou porque a situação familiar exerce uma pressão excessiva sobre ela, seu comportamento instável manifesta o padrão pelo qual a criança não pode contar com a segurança de um meio contínuo. É provável também que no meio familiar esteja muito presente a sensação de desarraigamentos: pais estrangeiros ou imigrantes muito diferentes de seu meio cultural, pessoas nascidas em zonas rurais que são obrigadas a viver na cidade - e vice-versa - questões ideológicas ou religiosas, qualquer desses itens serão particularmente relevantes quando é a mãe que experimenta uma sensação de estranhamento e não obrigação com o mundo em que vive.

De outro ângulo, na família podem estar muito afetivizado a criatividade e a originalidade, ou o ir “contra a corrente”, tanto de um ponto de vista ideológico como religioso ou moral. Quem sabe alguém importante na infância professava idéias revolucionárias ou possuía grande liberdade de pensamento em relação ao meio, não só em termos sociais e sim expressando alguma visão cósmica que para criança era incompatível, por exemplo, com o que vivia as famílias de seus amiguinhos.

Lua em Aquário

Aquário expressa a criatividade das redes de energia que transcendem a forma, mas que se manifestam através dela. É o momento em que a circulação e o intercâmbio espontâneo entre as diferenças de um campo - que já não estão atadas a uma posição fixa - renovam em sua interação a estrutura do sistema. De uma perspectiva sequencial, a forma totalmente despregada em Capricórnio - levando dentro de si, essencialmente, todas as transformações que a precederam - se descobre em Aquário como um ponto, dentro de uma constelação, através do qual circula toda a energia em padrões sempre renovados. Esta interação franca em abrir-se nos fala da disponibilidade dos componentes aquarianos, sem toda a proteção e sim outro refúgio da mesma criatividade.

Neste sentido nos encontramos em um ponto paradoxal em relação a Lua. Há aqui uma enorme afinidade com a espontânea intensidade da vida em sua origem, apta para tomar as formas que sua própria criatividade exija, livre de renovar-se nas mutações que expressam suas dimensões mais profundas. Mas, ao mesmo tempo, há também uma incompatibilidade quase absoluta com a necessidade de fechar-se sobre si e excluir interações, própria da fase lunar de todo o sistema. Em Aquário a única segurança está em abrir-se, naquilo que se entrega com confiança o que nunca se repete e que haverá de renovar a forma no desconhecido de si mesma.

Lua em Aquário significa então, que o único refúgio é a ausência de refúgio. A única segurança é a confiança de um espaço indeterminado, onde a renovação é a única constante. É a certeza de que cada situação desembocará em outra completamente nova, só sustentada por uma criatividade que se descobre incessantemente em si mesma. Permanecer aberto a todas as situações significa não pertencer totalmente a nenhuma, não reconhecer em nenhum lugar um calor e uma intimidade exclusiva, que não possam experimentar em outro lugar.

Em padrão energético, a pessoa que nasce com a Lua em Aquário possui uma capacidade de renovar-se em um mundo de interações criativas e imprevisíveis. Ao longo de sua vida, participará recorrentemente de uma súbita transformação das condições em que havia se estabilizado. Isto à lançará ao desconhecido com uma grande liberdade e espontaneidade, mas também à arrancará de improviso das construções de seu passado.

O espaço aqui, é a única coisa que não é possível - nem necessário - construir um teto ou fechar-se em um círculo protetor. A segurança reside na espontaneidade criativa que, quanto mais se abre e vincula o diferente, tanto mais possibilita descobrir as formas corretas para cada situação única. “Minha mãe é o céu”, parece dizer aqui a energia. O único teto são as estrelas, tudo pode acontecer dentro desta casa infinita e transparente. Esse céu imprevisível se abrirá com a abundância de seus donos, mas também com o furacão e o raio. Esta “mãe” nunca será igual, será distante e opressora ao mesmo tempo, ausente e presente, imensa e vazia.

Podemos ver que este padrão energético, tão belo em sua espontaneidade criativa, submeterá a criatura, desde o momento de seu nascimento, a uma séria de fatos não contínuos, muito diferentes do arquétipo lunar canceriano de estabilidade, simbiose e permanência, que parecem ser condições imprescindíveis para o ser humano em seus primeiros passos.

Estas qualidades de intermitência, imprevisibilidade, espaço aberto sem contato corporal e renovação súbita do afetivo - que pertencem a criança enquanto estrutura energética - se descarregarão sobre ela, como sabemos, através da mãe que à traz ao mundo e seu campo emocional. Estes níveis de intensidade o afetarão poderosamente, condicionando-o para o futuro.

De diferentes formas, este padrão se repetirá ao longo de sua vida através de experiências que alterem subitamente as condições emocionais, formando parte da estrutura de destino desta pessoa. Mas cada nova manifestação desta pauta se encontrará com as reações que provocou na primeira infância, em que se configurou um padrão de resposta à estas experiências. Como terá relacionado esse “corpinho” diante da súbita e reiterada interrupção do sistema afetivo, durante a infância? Esta é a pergunta fundamental que devemos fazer para compreender o hábito lunar associado a Lua em Aquário.

Talentos da Lua em Capricórnio.

Chegado esse ponto e ter dissolvido as distintas capas do mecanismo, a qualidade capricorniana já não opera como refúgio e sim que é uma disponibilidade do sistema em seu conjunto. Aqui a concentração, a responsabilidade, a capacidade para sustentar a energia quando é necessário - deixam de ser respostas emocionais para se converterem em autênticos talentos. Seguramente a pessoa descobrirá em si uma grande capacidade de solidão, que nada tem a ver com isolamento e sim, como permanecer só consigo mesma, não dependendo dos outros - reais ou imaginários - em níveis emocionais e mentais - assim, deseja dar forma a sua própria vida, de acordo com seu ser mais profundo.

Se realmente, se abriu uma nova circulação de energia, dissipara as dores e a veia de tristeza que muitas vezes refletem-se no rosto destas pessoas. Aparece uma solidez emocional que permite um contato muito profundo com o humano, em suas limitações e necessidades. O fundo melancólico que era próprio das fases anteriores dá lugar a um profundo realismo, capaz de encontrar as melhores formas possíveis para o desenvolvimento da criatividade. Nada melhor que a Lua em Capricórnio para compreender a esterilidade do isolamento e a cristalização do passado. Construir formas que respondam as necessidades reais, articulá-la com os demais e ser capaz de renová-las com um ajustado sentido de tempo, são expressões naturais de uma Lua em Capricórnio integrada a totalidade da estrutura.

Quando perder o medo a frustração e poder pedir, abrir-se e jogar com liberdade no mundo dos afetos, é o momento em que aparece o talento da Lua em Capricórnio. Recém aqui, descobre que tem uma tendência a simbiose e a dependência emocional muito menor que os demais e que, portanto, seu talento é esse: a capacidade de solidão, porque realmente não necessita “que os outros lhe preencham a vida”. Neste ponto aparece a expressão de uma emoção madura, capaz de sustentar-se sem dependência, com real aprumo e de resistir a situações que seriam muito difíceis para outros.

A expressão deste talento é posterior a resolução do hábito, porque do contrário, é novamente o sintoma de seu mecanismo de auto-suficiência.

Desse talento, as experiências onde há muito afeto amplificarão aquilo que, para não sofrer, havia fechado o “coraçãozinho do bebê” e que havia ficado registrado, mascarado.

A medida que recebe, vai abrindo e voltando ao volume natural, recordando que esse “volume natural” sempre será menor que o que necessita qualquer outra Lua, porque esse é precisamente seu talento : poder contar realmente consigo mesma.

Para chegar a essa fase de integração é necessário sintetizar aspectos contraditórios de outros lugares da carta natal?

Sim, isto é central na aprendizagem da astrologia, é preciso registrar matizes e aprender a ver contradições. Com a Lua em Capricórnio temos aprofundado algo que, na realidade é válido para todas as demais Luas e para toda a astrologia, como tema de reflexão. O Céu diz: “Lua em Capricórnio”, o que quer dizer - estruturalmente - que Saturno está junto à Lua. Agora bem, isto que está no Céu deve plasmar-se com o que há na Terra e, que capacidade temos hoje os seres humanos de integrar Saturno à Lua? Na verdade, muito pouco, é algo que para nós está desintegrado, escondido. Tudo isso faz que algo que em si mesmo aparece profundamente integrado - a autonomia, a solidez emocional - desde a história construtiva de uma cisão entre afeto e solidez, e sim que essa fragmentação se dá nas estruturas psíquicas, a raiz de Saturno e a Lua disponíveis na Terra. Isto se verá com mais clareza na próxima Lua: a de Aquário.