Astrologia e a Renascença

Os astrólogos no período renascentista manifestaram um incansável interesse pelos elementos místicos de sua arte. Suas incursões pela alquimia, a metoposcopia e outros campos aumentaram consideravelmente o apetite do público pela revelação do oculto. Mas sua inventividade dispersou a corrente principal do pensamento astrológico.

Em 1543, Nicolau Copérnico, cônego polonês e astrônomo, publicou um livro no qual dava razões para se supor que o Sol e não a Terra, ocupava o centro do sistema solar. Essa teoria heliocêntrica já era conhecida dos estudiosos renascentistas, assim como o fora de matemáticos gregos, notadamente Aristarco, muitos séculos antes, mas era vista apenas como um estratagema alternativo – não como a realidade. Copérnico tinha consciência do que significava arriscar a ira da igreja e evitou a publicação até se encontrar no leito de morte. Seus temores eram bem fundados e, quando as implicações de sua obra tornaram-se claras, nos cinqüenta anos seguintes, a igreja realmente se comprovou hostil.

Copérnico

Em 1542, o Tribunal da Inquisição fora rebatizado como Congregação do Santo Ofício, mas suas técnicas repressivas de modo algum, se atenuaram. Um seguidor de Copérnico, Giordano Bruno foi queimado vivo em 1600 devido à sua persistência, e em 1663, quase um século depois de Copérnico, o grande Galileu acabou sendo forçado a se retratar.

Copérnico não estava correto em todas as suas asserções, e, embora lhe faltassem os meios de provar sua hipótese através da observação, essa prova logo seria fornecida por Tycho Brahe, nobre dinamarquês que se distinguiu durante o período de transição em que a astrologia e a astronomia mecânica ainda podiam coexistir lado a lado de maneira adequada. Em 1572, uma nova estrela surgiu no céu, brilhante o bastante para ser vista a olho nu à luz do dia. Era, sabe-se agora, uma super nova, mas Tycho não tinha condições de saber disso na época, mas comentou que o aparecimento de uma nova estrela refutava o dogma tradicional de que os céus eram imutáveis e viu também o seu significado astrológico. Depois de inúmeros estudos tornou-se matemático da corte do Sacro Império, sob Rodolfo II, na Boêmia. Lá um alemão, Johannes Kepler, veio a ser seu principal assistente.

Kepler nomeado matemático imperial depois da morte de Tycho, 1601, tinha inclinações astrológicas e usou as acuradas observações de Tycho para provar que a Terra e os outros planetas movem-se em torno do sol em elipses.

O trabalho de Kepler deu o golpe de morte no sistema ptolomaico, embora a igreja continuasse a se opor e o grande livro de Copérnico tenha sido removido do índex papal até 1835. Mas as repercussões para a astrologia mesma não foram tão grandes quanto se poderia supor. Se era o Sol que agora ocupava o centro do Universo, sendo a Terra, meramente um planeta, as influências recebidas pelos homens na Terra continuavam imutável.

Astrologia na Idade Média


No início da Idade Média, um problema enfrentado pelos teólogos era classificar a astrologia como ciência legítima ou como arte divinatória proibida. John of Salisbury (1115-1180) decidiu que, nas suas asserções proféticas mais amplas e na aparente negação do livre-arbítrio, a astrologia usurpava a prerrogativa do próprio criador das estrelas. Coube finalmente a Santo Alberto Magno (1200-1280) separar a astrologia das suas associações pagãs.

Alberto foi o primeiro a perceber o valor teológico da ciência e da filosofia árabes e gregas. Sua grande realização foi tornar esse conhecimento acessível à civilização ocidental, particularmente os ensinamentos de Aristóteles, e nesses ensinamentos a doutrina de que os eventos terrenos eram governados pelas esferas estrelares era central. Embora as estrelas não pudessem influenciar a alma humana, concluiu Alberto, certamente podiam influenciar o corpo e a vontade humana. São Tomás de Aquino (1225 – 1274), consolidou ainda mais a obra de Alberto. A astrologia, desde que excluídos os elementos de necromancia era agora aceitável como assunto digno de estudo intelectual, e podia, além disso, na sua visão de universo, ser vista como complementar à doutrina cristã então reconhecida.

A respeitabilidade acadêmica de que a astrologia passou a gozar refletiu-se nas grandes e novas universidades européias, onde os estudos astrológicos adquiriam um lugar nos currículos. A Universidade de Bolonha, onde estudaram Dante e Petrarca, tinha uma cadeira de astrologia desde 1125. Habilitar-se em astrologia era um desafio quase tão grande quanto habilitar-se em qualquer ramo do saber e o astrólogo era visto com o maior respeito.

No entanto, na medida em que a Idade Média avançou, foi havendo uma crescente tendência dos astrólogos no sentido de estender-se além da própria alçada. Guido Bonatti, talvez o mais conhecido astrólogo do Século XII, que escreveu um livro muito popular esteve a serviço do Conde Guido de Montefeltro. No início das campanhas militares do conde, Bonatti, aludindo às estrelas, soava o sino para que o exército vestisse armadura; tocava-o de novo para que montasse; e uma terceira vez para que partisse. Bonatti e Michel Scott foram expostos ao ridículo no Inferno de Dante. Mas a acusação de Dante era que eles misturavam necromancia com ciência. Nos últimos livros da Divina Comédia Dante recolocou a astrologia numa posição de dignidade.

Quando o Renascimento se instalou, houve pouco declínio na popularidade da astrologia, na verdade ela viria a obter apoio do próprio papado.

A astrologia árabe

Muito da sobrevivência da ciência e da filosofia clássicas se deve ao fato de terem sido preservadas e usadas pelas avançadas culturas árabes no norte da África e Mediterrâneo oriental, aproximadamente a partir do século VIII.

Nos campos da medicina e da astronomia em particular, os árabes logo se demonstraram notavelmente hábeis. Criaram-se centros de aprendizado em Bagdá e Damasco, e o Califa Al-Mansur de Bagdá fundou um observatório e uma biblioteca na cidade, tornando-se a capital do mundo astronômico. Além disso, os estudos astronômicos árabes tiveram uma acentuada orientação astrológica.

Os árabes definiram uma forma nova, ainda que dúbia, de astrologia prática, que podia ser utilizada para todo o tipo de adivinhação na vida cotidiana, tal como a descoberta de momentos propícios ao empreendimento de viagens. Entretanto, sua ênfase em indicações “favoráveis” e “desfavoráveis”, ao invés de profecias de eventos categóricos, viria a ser posteriormente de grande ajuda à astrologia quando esta se reabilitou no Ocidente, durante o renascimento.
Albumansur, ou Abu Maachar (805-885), foi o maior dos astrólogos árabes. Seu tratado “introdustorium in astronomiam” apresentava uma positiva influência aristotélica. Essa foi a primeira obra a aparecer, traduzida na Espanha e na Europa, no início da Idade Média. E se comprovaria altamente influente no reflorescimento da astrologia e da astronomia.

Decadência na Europa

Na Europa, a tradição clássica morreu com Ptolomeu em 180 de nossa era. A astrologia também começou a declinar, sobretudo porque, na mesma época, se perdeu a habilidade técnica para fazer observações e cálculos. Quando o Império Romano se desintegrou, a astrologia decaiu temporariamente para a condição de deturpada superstição. A Igreja cristã com todos os meios à sua disposição, atacou as práticas astrológicas, juntamente com tudo que foi considerado de crença pagã. Entre os primeiros padres da igreja envolvidos em tentar aniquilar a astrologia, a figura mais notável e eficaz foi Santo Agostinho de Hipona (354-430). Na juventude ele acreditara na astrologia, mas posteriormente passou a condená-la de modo absoluto. A astrologia, proclamava ele, era no melhor dos casos uma fraude e se os astrólogos às vezes eram exatos só podia ser porque haviam invocado aqueles espíritos malignos que procuravam incessantemente possuir a mente dos homens.